Perde-te no mapa do meu corpo
Sente o vento que suspira
A mansidão dos cumes
Há azimutes que não seguiste
Linhas rectas, linhas curvas
Por onde teu dedo não passou
Faz contas, sonha o caminho
Que serpenteia por minha pele
E traça teu rumo de nómada
Pousa bússola em terra chã
Olha o Norte nos meus olhos
E avança pelos trilhos
Trepa pelas curvas de nível
Galga montes sinuosos
Demora-te em vales recônditos
Arranca o fôlego à brisa
Incendeia a lenha rasteira
E repousa no teu destino
Navego em mar encapelado
cavalgando as ondas em teu corpo
na crista da espuma suada
que de ti se desprende
em busca de enseada recôndita
onde anseio espraiar os sentidos
Pressinto a dureza do cais
Provo o sal da rocha que se alteia
Ouço o rugido suave das profundezas
Vejo-te em oscilação ritmada de maresia
Cheiro o doce acre que se desprende
da maré viva que libertas
Ribomba ao longe a tempestade que se aproxima
Faíscas de luz rasgam-me por dentro
Explode o céu no infinito
E amanhece.
leve toque
leve afago
a alma flutua livre
na tua suave mão
terno sopro
terno beijo
a boca prende faminta
de pluma o coração
doce farejo
doce perfume
buscado em reentrâncias
indiscreto e pagão
suave gemido
suave murmúrio
que lascivo se ouve
em eterno carrilhão
travesso olhar
travesso sorriso
que abrasa os sentidos
em perfeita comunhão
Geme o raio de sol
que invade pelas frestas nuas
meu corpo ausente de mim.
Geme o silêncio
entrecortado por chilreios
que me debicam a alvorada.
Geme o ninho
sedoso no restolhar macio
tranquilo da minha pele.
Geme tua mão
pela suavidade sinuosa
das minhas colinas.
Geme teu olhar
enquanto me desvenda
faminto sedento de mim.
Geme teu respirar
aragem fresca da manhã
no meu ventre quente.
Geme tua boca
que me aguarda o acordar
para o início do fim.
Abraça-me
Atrai-me
À côncava suavidade
Do teu peito
Em ti descanso
Da fadiga da vida
Corpo de abrigo
Corpo mar
Que me acompanha as marés
Abraça-me
Acolhe-me
Deixa-me hoje navegar
Em ti
Ao sabor da brisa
Que és
Longe do canto
De sereia
Hino teia que seduz e mata
Abraça-me
Abriga-me
Deixa-me mergulhar
Nas profundezas
Do silêncio
Escorada
Em mar chão
Onde descanso
Protegida de ventos infernais
Abraça-me
Envolve-me
Recolhe-me as asas
Cansadas
Degreda-me
As quimeras
Embala-me
O sossego
E leva-me a casa.
Avança tuas mãos
incandescentes
por sobre todos
os interstícios
do meu corpo.
Deixa rasto de fogo
dilacerante
à tua passagem
fazendo-me
pasto de chamas.
Faz-me rugir
sedento
cada poro calcinado
nesta dança
em labareda.
Suga sem tréguas
inclemente
todo o ar
deste incêndio
em fúria.
Extingue o vulcão
luminescente
em vapor de suor
que fervilha
em mim.
Arrasa impiedoso
arrogante
todos os sentidos
até à ruína
da devastação.
E faz de mim
terra queimada
em flor.
Sinto-te faminto
No olhar que lanças,
Crescente de desejo.
Ardes em fogo lento,
Ideando o meu cheiro,
A tessitura da minha pele.
Resvala minha mão,
Por meu deserto suave
Onde a tua queria estar.
Sorrio ao saber-te
Acirrado, agastado,
Domado por minha vontade.
Hoje sou dona de mim.
Não há língua, carícia,
Corpo estranho ao meu.
Tudo me provoco.
Tudo me pertence.
Tudo me permito.
Toda me dou.
Toda me sinto.
Toda me desfaço
Nos meus dedos.
Vem, meu Amor,
que a noite hoje
é de neve invernal
cristalina
gelada
mas por dentro há fogo
quente
crepitante.
Vem, meu Amor,
que a noite hoje
é de destino incerto
expectante
silencioso
mas por dentro há riso
festa
esperança.
Vem, meu Amor,
que a noite hoje
ainda é singular
solitária
desértica
mas por dentro há Nós
uno
eterno.
Vem, meu Amor, vem.
Repousemos descansados
no colo que é nosso
olhemos a estrela-guia
que nos marca o norte
murmuremos os nossos nomes
em doce embalo
Tu-Eu
Eu-Tu
enquanto a noite o destino
transforma em felicidade.
Na noite
Cansada
Adormecida
Cerrada
Pressinto
O crepitar do meu brasido.
Chispas de fogo sobem
Pelo céu do teu olhar.
Promessa em potência
De incêndio por lavrar.
Em minha boca
Entreaberta
Incandescida
Em oferta
Ensaio
O cautério que se avizinha.
Entrecorto-me em soluços
Ofegantes e fervilho.
É pólvora minha pele
Quando acendes o rastilho.
Minha língua
Impiedosa
Engole
Consome
Devora
Todo o ar à tua volta.
Vinte raízes beijadas
Assoladas por vento forte
Ateiam chamas em fúria
Em direcção ao meu norte.
Minha frente
De fogo
Avança
Cobre
Abrasa
Cada centímetro do teu chão.
Ferve-me a pele escalda-me o toque
Arde-me cada nervo em tição
Range-me a voz vão-se os sentidos
Deliro em delírio no furor do vulcão.
Estendo lava
Pela terra
Queimada
Fervente
Regada
Húmida de cinzas.
Expludo em centelhas
De espasmos rutilantes
Quando me rasgas os sentidos
Com ígneo círio chamejante.
É tua a campina aberta
Calcinada por meu desejo.
No rescaldo não te esgotas
E por ti de novo rastejo.
Não me toques
Olha-me
Despe-me devagar
Fazendo-me sentir
A cada peça imaginada caída
O fogo do teu olhar
Não me toques
Pressente
Da pele a maciez
Que tua boca cobiça
Ânsia prenhe do sabor
Que arrasa a lucidez
Não me toques
Escuta
Cada murmúrio soltado
Que teu coração cuida
Desejo em investida
Do momento desejado
Não me toques
Fareja
De minha pele o odor
Agridoce sinfonia
Que enevoa o pensamento
E te busca o impudor
Não me toques
Avizinha
Os dedos em frenesi
Augurando a paixão
Pandora livre atiçada
Que me abandona a ti
No frio estendes a mão
e atrais-me a ti
enquanto os olhares se cruzam,
áscuas candentes
em grito mudo de anseio.
Tudo é lento, tudo é paz
de início de brasido
que pressentes quente
na lareira do meu corpo.
Em minha pele acendalha
tua língua começa a lavrar
acendendo rastilho ardente.
Sobes em fogo vivo,
teus dedos tição em brasa
ateando a acha do meu corpo.
Sentes-me a dureza do lenho,
em pira disposto
à espera da incandescência.
Há fogo em torvelinho
enquanto as bocas se incendeiam
e deslizo abrasado e febril
por teu campo em labaredas.
Rasgo-te em delírio de incêndio
rugindo em cada crepitar,
duas línguas de fogo
faíscam na noite em fúria
e consomem-se em calor de fornalha.
No teu sorriso me perco
quando em vão me oferto
ao sossego do meu cansaço.
Sorriso-rasto de luz
que me envolve e seduz
nas teias de um abraço.
Sorriso sempre embrulhado
em fresco fogo buscado,
que me queima a cada passo.
Sorriso de alma gigante
rasgado e provocante
que grava em mim o seu traço.
Sorriso-certeza de encontro
sonho com que me defronto
invasor de meu espaço.
Sorriso que em mim flutua
e deixa minha alma nua,
perdida no seu compasso.
De doçura dolorosa
Sobem por meu corpo acima
Desvendando cada trilho
Franqueando cada trincheira
Sinto-te o desejo, a audácia, a procura
Em minhas pernas
Buscando garupa firme
Por galgar
Tua boca
Guiada por bússola invisível
Mergulha em seu pólo magnético
Torturando meu mundo
Invadindo minha coutada
Sinto-te o repto, o duelo, a mestria
Nas curvas esconsas
Desvendando segredos
Urdindo a capitulação
Tua pele
De suavidade suada
Une-se ardente à minha
Despertando o fogo
Entorpecendo os sentidos
Sinto-te a investida, o furor, a dureza
Em meu ventre
Acirrando o desejo
Por extinguir
Teus dentes
Incitados ao banquete
Devoram a maciez salgada
Provocando a súplica
Saciando a paixão
Sinto-te o toque, a ânsia, a firmeza
Na curva suave do peito
Ondulando ao sabor
Da tua vontade
Tua língua
Desejada em murmúrio
Marca minhas veias latejantes
Delimitando território
Assenhoreando-se de mim
Sinto-te o domínio, o ardor, o prazer
Na cerviz inclinada
Fervilhando ao toque
Da tua dança
Tuas mãos
De vontade maciça
Estiram meus cabelos
Expondo minha face nua
Descobrindo meu acordar
Sinto-te o deslumbre, a reverência, o espanto
Nos corpos em doce aconchego
Deixando nascer em silêncio
O mais sentido abraço
Teus olhos
De ternura infinita
Contemplam meu mundo
Conquistando meu sossego
Devastando meu coração
Sinto-te a paz, o carinho, o encanto
Nas mãos que se entrelaçam
Deixando sentir o prenúncio
De amor imenso e devasso.
porto de mel porto de fel
insatisfeita me arrasto
pela cama do teu corpo
é a tua alma que procuro
quando as minhas unhas se cravam
na tua pele
vagueio com destino
sugo até ao tutano
o que mais íntimo tens de ti
devoro insaciável
tudo o que tens
tudo o que és
prendo-te rendes-te
à minha sombra
que é rainha das tuas noites
esquece tudo
hoje a Senhora sou eu
e tu és meu
Teus lábios sequiosos
Sedentos
Invadem o meu poço.
Ouve-se o sussurro
Cultivado
Dos gemidos.
Tua mão felina
Arrogante
Insinua-se em mim.
Sou eu e não sou eu.
Elevo-me como onda
Em ímpeto
Desatinado.
Arqueio como ramo
Em temporal
Agitado.
Rujo como leoa
Em encalço
Faminto.
Nas minhas pernas
Escancaradas
Só assoma o teu cabo.
Na minha pele
Incendiada
Só avança o teu arado.
Na minha toca
Devorada
Só se sente o teu vigor.
Tudo é teu.
Abocanhas
o meu mundo.
Quanto mais lavras
mais te perdes.
Quanto mais te perdes
Mais te amarro
Ao meu cais.
a cruz
de te ter
preso
em meu
coração
eterna
tormenta
mar chão
onde me deito, onde sossego, onde me deleito e me entrego, oceano perfeito onde navego.
Da dormência, do desencanto brota clarividência e espanto, pela efervescência que decanto,
pelo renascimento, renovação, reacendimento, ressurreição, abrasamento em tua compleição
sedutora
senhora
que me
conquista.
E tudo é
respiração
ternura
roçagar
procura
um botão
pundonor
pesquisa
e rubor
contacto
encarar
acicate
arquejar
gemido
ardência
sussurro
cedência
rompante
e clarão
desvario
paixão
tremura
abraço
placidez
cansaço
lábios
sudação
frescura
lassidão
âncora
cravada
perpétua
e amada.
Cobertos de tojo quente
Já pontilhado de geada,
Na suavidade felina
De quem te sabe indefeso.
Avanço devagar, abrindo trilhas
Desbravadas em passo impudente,
Cada dedo como pegada
Entrando pelos covis,
Desrespeitando o defeso.
O olfacto serve de guia
A um desejo indigente.
A cada haste arredada
Exalo mais na selva densa
Odor de sacerdotisa.
Solto o ar pelas campinas,
Glacial, incandescente.
Sobem gemidos em toada
No pasto húmido de seiva,
Incensado pela brisa.
Estendo-me na nua pedra pia
Em labareda, já demente,
Pelas garras demarcada,
Bem ciente do alívio
Que o fogo profetiza.
Ajoelho em idolatria
No cume em êxtase ardente.
Abraço a impetuosa ramada,
Mergulho na seiva aspergida
Em que por fim me reteso.
Inclino em doce alquimia
Em adoração reverente.
É esta a minha morada,
Altar-oferenda de paixão,
Em que te sinto preso.
Beijo tangente
Beijo nos olhos
Batente
Beijo brisa
Beijo candura
Beijo em nariz
Travessura
Beijo sorriso
Beijo fugidio
Beijo canto de boca
Desvario
Beijo dentada
Beijo delícia
Beijo em um lábio
Malícia
Beijo fome
Beijo demora
Beijo em lóbulo
Espora
Beijo arisco
Beijo matreiro
Beijo em pescoço
Feiticeiro
Beijo destempero
Beijo ardor
Beijo em peito
Conquistador
Beijo abandono
Beijo doçura
Beijo em umbigo
Ternura
Beijo desconcerto
Beijo errante
Beijo em fronteira
Amante
Beijo louco
Beijo paixão
Beijo em recanto
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