Quem és tu?  

Posted by Bruno Fehr in

Sonhei que estava contigo. Ausente de mim observava-me a observar-te. Estavas sem expressão e nos teus olhos uma interrogação.
Viraste costas e eu disse:

-Espera!

Parecias esperar por mais palavras, querias todas as palavras que não conseguia dizer e partiste. Espera era tudo o que queria dizer. Mas não te posso pedir para esperar por um tempo que poderá não vir. Esperar pelas palavras que me recuso a sentir. Esperar pelas escolhas que me recuso a fazer. Esperar por me decidir a viver. Dizer-te espera era tudo, não percebeste e ainda bem. Não te poderia prender aqui, ao meu sonho, pois isto é só um sonho do qual acordo sempre com a sensação de pesadelo.
Querer que esperes é injusto, partir contigo é impossível pois levaria-me a um futuro eternamente ausente tendo o passado sempre presente.

-Quando olhas para mim, quem vês?

Foi esta a pergunta mais difícil que me fizeste, pois não te consigo mentir e a verdade seria dolorosa. Vejo-a em ti mas sei que não és ela. Gosto do que vejo mas não sei quem tu és. Sei que és única. Mas... o amor sente-se por pessoas e as pessoas são únicas, mas como funciona ele em relação a duas únicas aparentemente iguais? Tu serias sempre tu mas parecerias-te sempre com ela, percebes?
A melhor forma de evitar responder é questionar:

-Quem és tu?

Não há questão sobre ovo ou galinha, sobre o sentido da vida, sobre gato de Schrödinger com resposta mais difícil que um simples: Quem és tu?

E tu que acabaste de ler esta divagação: Quem és tu?


(excerto de "Velho demais para ser", por Bruno Fehr)

O Privilégio do Disparate - What else?  

Posted by LBJ in


Assim que dei os primeiros passos, caí, se calhar toda a gente cai ou talvez haja no andar já uns prodígios que uma vez que comecem já nada os faz cair. Aprendi depressa a cair de cu porque doía menos, embora custasse mais a levantar depois, havia toda uma manobra a realizar que para alguém com pouca experiência como eu era complicada além de que o cu me pesava, sobretudo depois de algum tempo sem manutenção e eu sempre fui algo cagão, então tinha que me inclinar para a frente, pôr uma mão no chão, o que comigo funcionava sempre com a direita e depois lá levantava o rabo até me conseguir ter direito e caminhar até voltar a cair, de cu, que eu aprendo depressa.

Ora eu e se calhar toda a gente, escolhe logo desde os primeiros passos uma situação de conforto em detrimento de mais facilmente andar para a frente ou se calhar não, as pessoas de sucesso que até podem ser felizes, sempre que caem, caem de forma a rapidamente se levantar e pouco importa os joelhos esfolados ou o sangue no nariz porque até lhe chamam construir e fortalecer carácter e o que não os mata fá-los mais fortes.

Somos empurrados pelo sistema que só nos quer ensinar e preparar a procurar e gostar da mudança, se estamos bem devemos estar preparados porque podemos vir a estar pior e se estamos mal devemos estar preparados porque podemos vir a estar melhor. A mudança pode ser lenta ou repentina mas é tão certa como o tempo e por muita desgraça que nos traga deve ser encarada como uma bênção porque nos dá uma oportunidade de melhorar. Por isso se criaram os incentivos que tanto podem ser os ecrãs de dois metros e meio para o qual todos gostavam de ter parede ou um lugar no céu sentado à esquerda de alguém famoso.

Tenho que saber lidar com a mudança para ser feliz mas como se define a felicidade? Que direito tem alguém de definir a forma do outro ser feliz? E se eu não quiser ser feliz e se este ou o outro for um estado que me faz sentir qualquer coisa que eu não quero catalogar ou que me expliquem o que é? Perdemos a forma de saber cair de cu no chão com o passar dos anos e não sei se isso tem a ver com a procura da felicidade ou do graal que nos tentam impingir ou se é algo evolutivo como a mudança dos dentes ou os cabelos começarem a ficar brancos. A mim nunca me nasceram os dentes do siso, acho piada gabar-me disso, podes dizer que andas com uma gaja muita boa e que tens um carro com mais cavalos que os índios e um barco que já só te cabe dentro de água, mas a mim nunca me nasceram os dentes do siso e diz-me lá se não tenho razão em ser mais feliz que tu?

Aqui há dias estava à janela do escritório e houve um senhor de branco que passou e me acenou, parece que distribuía felicidade a quem a procurava e eu que de repente estava só à janela a ver os carros passarem, fiquei sem saber o que fazer, como naquelas situações em que se vai na rua e se acha algo de valioso e ficamos com os dois bichinhos o do halo e o dos corninhos um de cada lado do ombro a soprar conselhos. Eu não procurei aquela felicidade e não queria enganar o senhor de branco que faz tanto para parecer e ser boa pessoa e não sabia mesmo se devia tentar arranjar uma forma prática de a devolver ou se a devia guardar e assumi-la como um capricho da sorte ou um sinal da trindade que eu era abençoado, talvez por não me terem nascido os dentes do siso ou compensação por já não conseguir cair de cu, quem poderá saber os desígnios do senhor de branco ou de outros transitários de felicidade.

O encontro  

Posted by Mag in

Olhas-me.
Lês-me o desejo no corpo nervoso, a saudade no olhar que simula ausência.
Ensaias palavras breves, perguntas certeiras, para te acalmar o pulso que corre.
Mentiste-me, pensei, quiseste convencer-te que já não me amavas e agora que a presença te cobra a mentira não sabes como me fugir, como te iludir.
Mas conheço-te, e sei que basta tocar-te a pele para sentir a queimadura aguilhoada da fome de mim camuflada à superfície, louca para soltar os beijos com que me queres sorver.
Por isso encosto o corpo à chapa quente do carro, languidamente, e envio-te sinais imperceptíveis de desejo, daqueles que só nós dois conhecemos.

E por isso perdes a tua pose desprendida e os teus braços puxam os meus para trás, e a tua língua brinca já no meu pescoço, e todo tu és meu de novo, como tem de ser.

Experimental.  

Posted by Jane Doe in

A

não amar. demasiado óbvio. adeus. alegria. é banal. angústia. é por aqui, se faz favor. aconchegar. pela última vez. abraçar. sentir o cheiro. adormecer. para sonhar com o dia. acordar. para voltar a dormir. sono eterno.

B

que merda é esta?! baixar defesas. conhecer o canto. beber. tenho sede de não estar aqui. barulho. demais. calem-se por favor. aBatimento. eu não consigo mais.

A

outra vez. não ser amado. dolorosamente banal. chorAr. baixinho .alterar. rotina. acordar. não querer. adormecer. sono eterno. again.

N

nada. vazio. lembrança. nenhuma. eco.

D

o pior. dor. todos os dias. dor de ausência. dor de saudades. dor dos gritos alheios. sofrimento. dor. dor como agulhas na carne.

O

oportunidade. escapar. aventura. medo. odores. meus. alheios. iguais.

N

o mesmo. igual. nada. nada. nada. nada. vazio. eco. não gravidade no ser. eco. vazio. nada. nada. nada.

A

amor. não acredito. amor. não sinto. anestesia. morrer. por dentro. finalmente. abandono.

R

recuar. não nascer. não sentir. não sofrer.

[desculpa...]