Há depois outras pessoas que se deixam aprisionar pelas palavras. Que as absorvem e as mastigam, saboreando todos os sentidos que descobrem ou lhes são revelados. Às vezes é bom, às vezes é mau.
As palavras tornam-se grilhões pesados, sufocantes e temíveis, quando estrangulam e maltratam. ‘Não és capaz’, ‘a culpa é tua’, ‘não prestas’ são exemplos. Assim nos deixamos arrastar para o poço, numa cativeiro de dor, angústia, sofrimento, medo.
Esta prisão de palavras é cruel, destrói a alma, amputa, cega, obscurece o horizonte.
Há depois palavras que aprisionam porque nos ajudam a ordenar o pensamento. São palavras que nos atraem, que nos fazem pensar. São mansas, de auxílio, guiam-nos pela cegueira. Aguçam-nos o espírito, confortam-nos, revelam-nos saudades escondidas, divertem-nos. Fazem-nos rir. E chorar, quando é preciso lavar a alma.
Por elas nos libertamos até ao contrário das primeiras, preparando o caminho de regresso a casa. Ao lar. São palavras que nos aprisionam docemente, pela beleza que encerram. Pelo amor que desprendem, pela solidão que rasgam. Palavras que nos preenchem de amor, alegria, paz. De abraço quente. Que nos refazem por dentro, que nos resgatam ao feio, à morte. De portas escancaradas e janelas largas, rasgam o horizonte e levam-nos ao mais alto de nós. Nesta prisão de palavras, e como tão bem sabe Alexandre O’Neill, sentimo-nos beijados…