Eu não gosto que falem de mim, especialmente na minha presença. Ultimamente, toda a gente fala de mim, independentemente se me conhecem ou não, dizem verdades, meias verdades e ridículas mentiras. Eu sou o assunto do momento, toda a gente quer falar de mim. Sempre tive mais reputação que proveito em relação a mulheres, loucuras, talento e idiotices mas neste momento o proveito é zero e tudo isto não passa de reputação que está a afectar a minha vida pessoal de uma forma muito negativa. Dá-me vontade de torcer pescoços, furar olhos, bater em certas pessoa com gatos mortos até eles miarem. Tudo isto deixa-me deprimido, mas ninguém liga, ninguém se importa.
Estou a pagar um elevado preço por tudo aquilo que não fiz e não disse, deveria ter feito. Deveria ter feito toda a merda que dizem que faço e fiz... sei lá... Deveria ter sido o cabrão com as mulheres, que dizem que fui. Deveria ter feito mais merda do que era humanamente possível de imaginar, tenho a certeza que se o tivesse feito, não estaria na situação em que me encontro neste momento.
Sempre sofri de depressão, mesmo antes de depressão ser uma doença quando era simplesmente conhecida com um estado “maniaco-depressivo”. Lembro-me que desde muito novo que tenho variações comportamentais entre a tristeza e isolamento, a loucura e violência, no entanto considerava tudo isso, elementos relacionados com a adolescência e não uma doença. Os anos passam e a loucura diminui a violência termina, a depressão, tristeza é constante e a única coisa que nos mantém vivos é o isolamento, o tempo que passamos com os nossos pensamentos, o tempo passado a conversar comigo próprio, tentando conhecer-me. Acho que sou um tipo fácil de conviver e conversador, mas as pessoas com quem me cruzo, não têm nada para dizer, não têm vocabulário, falam do tempo e de assuntos banais que me dão uma vontade incontrolável de vomitar.
Quem não me conhece fala de mim, quem pensa que me conhece, fala de mim. As pessoas nunca elogiam quem não está presente, pois isso não tem piada nenhuma, a não ser que essa pessoa tenha morrido, ai é só elogios, como se essa pessoa tivesse sido perfeita, quando na verdade todos esse elogios são ditos, pois nunca se sabe se o morto esta a ouvir ou não. A piada está em falar mal de quem não está presente. Estar no meio de colegas a ter uma animada conversa e no momento que te levantas para ir ao WC, usam esses minutos para falar mal, quando voltas, está tudo normal, sorrisos, brindes e a conversa continua.
Tenho saudades do meu estado “maniaco” em que simplesmente fazia algo de completamente louco, o que afastava a depressão enquanto a loucura durasse. Nos últimos 3 anos não há nada de maníaco na minha vida, unicamente depressão.
Talvez o facto de me ter deitado neste passeio, seja o “maniaco” em mim a voltar, mas toda esta gente a minha volta está a deprimir-me. Talvez estar deitado no passeio, em frente a minha casa às 07:00 da manha de uma quinta-feira, seja do mais maníaco que fiz nos últimos tempos, algo que provavelmente será falado nos próximos dias. Quero estar sozinho por um momento. Eu, o meu pensamento e este passeio. Ver o mundo por um outro ângulo, de baixo para cima, deitado, olhando directamente o céu, ignorando que passa. Não é fácil, pois uma dezena de caras feias, impedem-me de ver o céu, olhando para mim fixamente como se eu fosse louco. Quem é realmente louco? Eu por estar deitado no passeio à espera de ver o nascer do sol, ou todos os idiotas que param para olhar para mim, esquecendo as suas próprias vidas?
Não me lembro da noite passada, não sei onde posso ter estado numa noite de quarta-feira e toda a madrugada de quinta-feira. Não sei se me diverti mas tenho a certeza que bebi muito, não que esteja bêbedo ou me sinta a ressacar, simplesmente porque sempre necessitei de álcool, não para viver mas para me divertir. Se não saio durante um mês, não bebo álcool durante um mês, mas se saio todos os dias, bebo todos os dias. O álcool não é um vicio mas sim um aliado, que ajuda a sorrir e a fazer sorrir, ajuda-me a estar em contacto com o rapaz que fui, o mesmo rapaz que foi assassinado por todas as pessoas de quem gostei e me desiludiram.
O sol está a nascer. O normal é chegar a casa já de dia, mas se tivesse chegado mais tarde, não estaria aqui deitado à espera do nascer do sol. O nascer-do-sol… já vivi imensos mas nunca reparei neles. O nascer-do-sol é algo que ignoramos, pois todos os dias ele nasce, podemos sempre adiar mais um dia e ver o próximo só para um dia chorar todos aqueles que perdemos. Ouço uma voz que pede para me darem espaço. As pessoas afastam-se um pouco e assim consigo ver o céu.
Ultimamente tenho andado muito mais activo sexualmente, não só activo como também ando a variar mais. Porque não sei bem, é como se andasse de vagina em vagina em busca de algo, em busca daquele “lar doce lar”, em busca de uma ligação sexual e intelectual perfeita. É triste, mas acho que isso não existe. O melhor sexo que tive foi com mulheres que não conseguem andar e mastigar pastilha elástica ao mesmo tempo e, aquelas com as quais consigo ter conversas decentes, aquelas que conseguem desafiar a minha mente são aquelas que me fazem sentir necrófilo, pois não se mexem ou simplesmente gemem e gritam assim que lhes toco no colchete do soutien. Quando se procura algo de especial nas mulheres através do sexo, o que se encontra são problemas, principalmente quando quebramos as nossas próprias regras. A minha principal regra era não dormir em casa delas e não deixar que durmam em minha casa. Não importa a que horas começamos ou a que horas acabamos, tem de haver sempre a força de vontade para nos levantarmos e as levarmos a casa ou conduzirmos até nossa casa. Quando deixamos que elas durmam em nossa casa, elas acabam por se achar no direito de nos exigir algo de pessoal, algo que não estamos dispostos a partilhar com elas, como por exemplo o nosso numero de telemóvel. A outra desvantagem é que sabem onde moramos e mais tarde ou mais cedo aparecem à nossa porta. Quando damos por ela, encontramos uma escova de dentes a mais na nossa casa de banho. Eu tenho um armário pequeno demais para tanta escova.
As mulheres mais perigosas, são aquelas que já sabem de nós o que precisam e nos preparam armadilhas, que nos obrigam a entrar em contacto com elas, que nos obrigam a voltar. Aquelas que deixam « minas » na nossa cama, « minas » prontas a serem encontradas pela próxima mulher e a rebentar na nossa cara. Nunca percebi como é possível que uma mulher se esqueça das cuecas, mesmo que seja daquelas fio-dental, que mal se nota que as têm vestidas. No entanto com o tempo percebi que elas não se esquecem delas, as cuecas são deixadas na nossa cama com um propósito, o propósito de serem encontradas de preferência por outra mulher. Na mente delas, o motivo de saberem que nós as iremos evitar depois do sexo, só pode ser por termos uma namorada e essa mina é deixada de maneira a ser encontrada por a nossa cara metade… que termo estúpido, cara metade.
Há qualquer coisa no meu estado depressivo que me faz trocar de mulher com regularidade, independentemente da maneira como ela se sente. A depressão torna-nos egoístas, se me sinto mal toda a gente se deve sentir mal. Troco de mulher sem pensar nisso, não importa se ela se sinta ligada a mim, pois eu não ligo a ninguém. Por isso mesmo ando a trocar regularmente de numero de telemóvel, desta maneira não me ligam mesmo que queiram.
Quando será que alguém me pergunta o que se passa comigo, o motivo pelo qual eu me deitei neste passeio? Por outro lado, o que será que eu iria responder? A melhor resposta seria: “Estou aqui deitado, porque posso!”.
Não quero ver mais esta gente. Fecho os olhos.
(Termina dia 22.01.2009)