- Podes-me ler? Por favor?
- Claro.
"É como ter uma corda a sufocar-me o pescoço. E não poder respirar. Simplesmente isto.
E é o irritar-me com o estado das coisas, e não poder fazer nada. No sentido de que todo o ser humano tem direito a uma vida digna, e para a termos temos de ser escravos. A supra ironia, pois isso de vida digna não tem nada.
Se diz na declaração universal dos direitos humanos que todos temos direito a uma casa e condições para uma vida digna, porque é que temos de nos esfarrapar para que isso aconteça? Afinal essa declaração serve para quê? Manifestações de activistas?
O mundo tornou-se, mas desde há séculos num sitio insuportável de viver, ainda que paradoxalmente fascinante.
Ninguém pensa em mudar as coisas. E mea culpa nisto, pois precisei de ficar sem dinheiro, e passar fome para olhar por fora. Antes olhava mas pensava um pouco menos. Pois sabia que não podia fazer muito e a melhor forma era tentar fazer alguma coisa a partir de dentro. Fiz muita merda pelo caminho. Porque muita gente se dedica a foder a vida de outros. E dedicaram-se a destruir a minha. Simples. Criaram-me medos, destruiram-me a vida deixando-me pesadelos eternos, e desconfianças infinitas que transformaram a minha vida numa eterna fuga. Dentro disto tudo sempre tentei fazer o melhor com os outros. E sei, que mudei a vida a algumas pessoas. Que as fiz mais felizes. Que ao ter gestos pequenos fui mudando ainda que por instantes a vida dessas pessoas. Mas ainda assim não resultou. O mundo não se tornou num lugar melhor, bastante pelo contrário. Cada vez mais megalónamos nos tentam - e conseguem - controlar. Cada vez mais as pessoas vão de encontro ao desespero enquanto um punhado de animais decide o seu (meu) destino. Que eu escrevi dentro de mim. Que teria um caminho e uma direcção mas que estes animais decidiram - talvez muito antes de eu nascer - que iria ter a direcção contrária. E por isso o meu caminho está no limiar da minha humanidade. Ou da minha animalidade. Pois tanto uma como outra ficam comprometidas quando a questão é de viver ou morrer. É um ciclo gigante que estes animais controlam. E algo tem de parar o fluxo deste controlo. Acordar as mentes.
É por isso que eu renuncio à minha vida. Porque renuncio a uma vida imposta por outrem, privada de dignidade, e condições básicas enquanto um Vaticano tem torneiras de ouro na casa de banho.
E espero que esta nota final faça parar o fluxo. Nem precisa ser em todo o mundo, mas na cidade onde decido fazer a minha escolha final. Espero que esta escolha contribua para que as pessoas possam fazer as suas escolhas vivendo. Lutando por aquilo que é seu por direito.
E devolvendo ao pó aqueles que pensam ser deuses. "
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