A escuridão seduz-me e por vezes dou por mim a esticar a mão para a tocar só para imediatamente recuar. É nestas alturas, quando estou só que tenho medo, sei que preciso de pouco para me perder nela eternamente, para perder o pouco de humano que ainda tenho e que é a minha única razão para viver. Medo de me deixar dominar pelo lado negro da pessoa que sou, da pessoa em que me tornaram.
Pouco ou nada durmo e sempre que adormeço entro numa queda sem fim, num buraco negro. Sinto toda a adrenalina a percorrer o meu corpo, todos os meus músculos contraídos, expectante, desejando e temendo o fim do precipício.
Pouco ou nada durmo e sempre que adormeço entro numa queda sem fim, num buraco negro. Sinto toda a adrenalina a percorrer o meu corpo, todos os meus músculos contraídos, expectante, desejando e temendo o fim do precipício.
Como sempre e involuntariamente agarro-me aos lençóis e acordo coberto de suor e sempre, sempre ao acordar vejo-a perante mim, graciosa como me lembro mas séria com nunca a vi. Questiono-me sobre o que ela sente enquanto a observo: Alegria? Medo? Pois sei que não sou o homem que ela conheceu e que sou um monstro perigoso para estar a seu lado. Amo-a e quero protege-la. Sei que tenho o poder de a proteger de todos os males, excepto de mim. Não sei se resistiria ao frenezim criado pelo sei cheiro. Questiono-me se fiz bem ou mal em ter partido. Mas como poderia ficar quando eu tão facilmente mato uma mosca como mato um homem? Pois no mundo em que vivemos as ferramentas do mal facilmente anulam as do bem.
Todos nós passamos uma vida em busca do verdadeiro amor e no entanto quando o encontramos viramos-lhes costas como se a vida fosse unicamente uma busca. Dividimos um átomo em busca Deus com a mesma facilidade que o fazemos para destruir um país.
O meu pai sempre me disse que a vida é um caminho estreito e que qualquer desvio poderá ser a perdição. Eu vejo esse caminho como o topo de um muro, de um lado a terra da felicidade do outro um precipício sem piedade, mas na escuridão completa em que vivo, qual é qual? Sinto-me sozinho no escuro, perdido num labirinto sem sentido, sem um ombro amigo. É certo que tenho o Santiago que me encontrou algures entre a vida e a morte e se tornou meu mestre, meu pai, meu irmão, mas será que quer o meu bem? A única coisa que me ensinou foi a matar para sobreviver, diz ele. Mas até que ponto é que posso chamar de sobrevivência ser voluntariamente fechado numa jaula e combater até à morte com outra pessoa perante uma multidão ecléctica de pessoas sedentas de sangue? Eu não quero matar e por vezes desejo a morte sem querer morrer, pois tenho a esperança de voltar a ser quem fui, voltar a ser o homem que achava fraco e que lutava para mudar quando no fundo é esse homem que eu deveria sempre ter sido, e quem eu sempre quis ser.
Santiago entra no meu quarto e diz:
Está na hora!
Partimos para mais um local remoto onde nos espera uma multidão, alguns querendo ver-me matar, outros querendo ver-me morrer. Durante todo o caminho observo a lua tentando lembrar-me da última vez que vi o sol.
Todos nós passamos uma vida em busca do verdadeiro amor e no entanto quando o encontramos viramos-lhes costas como se a vida fosse unicamente uma busca. Dividimos um átomo em busca Deus com a mesma facilidade que o fazemos para destruir um país.
O meu pai sempre me disse que a vida é um caminho estreito e que qualquer desvio poderá ser a perdição. Eu vejo esse caminho como o topo de um muro, de um lado a terra da felicidade do outro um precipício sem piedade, mas na escuridão completa em que vivo, qual é qual? Sinto-me sozinho no escuro, perdido num labirinto sem sentido, sem um ombro amigo. É certo que tenho o Santiago que me encontrou algures entre a vida e a morte e se tornou meu mestre, meu pai, meu irmão, mas será que quer o meu bem? A única coisa que me ensinou foi a matar para sobreviver, diz ele. Mas até que ponto é que posso chamar de sobrevivência ser voluntariamente fechado numa jaula e combater até à morte com outra pessoa perante uma multidão ecléctica de pessoas sedentas de sangue? Eu não quero matar e por vezes desejo a morte sem querer morrer, pois tenho a esperança de voltar a ser quem fui, voltar a ser o homem que achava fraco e que lutava para mudar quando no fundo é esse homem que eu deveria sempre ter sido, e quem eu sempre quis ser.
Santiago entra no meu quarto e diz:
Está na hora!
Partimos para mais um local remoto onde nos espera uma multidão, alguns querendo ver-me matar, outros querendo ver-me morrer. Durante todo o caminho observo a lua tentando lembrar-me da última vez que vi o sol.
Ao chegar sou encaminhado a uma sala húmida e escura onde Santiago me diz para começar a aquecer. 30 minutos depois ele volta e enquanto me massaja os ombros diz-me quem vou enfrentar. O meu adversário é Aristos, um mito entre os imortais e o mais antigo que já enfrentei. Será Aristos o meu carrasco?
Um homem com os seus 45 anos entra de romapante na sala onde estou dizendo em voz alta:
Atenção...
Ele não termina a frase pois os olhos dele encontram os meus e o seu tom muda dizendo com uma voz consumida pelo medo:
O combate começa dentro de 5 minutos.
Digo a Santiago para me largar e olho-o nos olhos nada vendo. Este homem que se diz ser meu pai, meu irmão e meu amigo parece nada sentir, parece não estar nada importado com o facto de eu poder morrer em combate, começo a sentir que para ele eu sou unicamente um troféu, o seu campeão de morte. No entanto sempre que venço um combate, quebrado, magoado e coberto de sangue sinto aquela faísca, que é o que mais se parece com o há muito ausente sentimento de felicidade, sempre que ele me abraça e me diz:
Vencemos, bom trabalho.
Um homem com os seus 45 anos entra de romapante na sala onde estou dizendo em voz alta:
Atenção...
Ele não termina a frase pois os olhos dele encontram os meus e o seu tom muda dizendo com uma voz consumida pelo medo:
O combate começa dentro de 5 minutos.
Digo a Santiago para me largar e olho-o nos olhos nada vendo. Este homem que se diz ser meu pai, meu irmão e meu amigo parece nada sentir, parece não estar nada importado com o facto de eu poder morrer em combate, começo a sentir que para ele eu sou unicamente um troféu, o seu campeão de morte. No entanto sempre que venço um combate, quebrado, magoado e coberto de sangue sinto aquela faísca, que é o que mais se parece com o há muito ausente sentimento de felicidade, sempre que ele me abraça e me diz:
Vencemos, bom trabalho.
(Excerto de Basiliüs - Sagrado e Profano)
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on domingo, março 14
at domingo, março 14, 2010
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Contos de Bruno Fehr
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