S.
Julgaste-me sem saberes o que me faz rir. Condenaste-me sem saberes o que me seca a garganta e o que me turva os olhos. Concedeste a ti mesma o direito de me julgares e condenares e fazes-me caminhar por um caminho de pó solto com uma mão dependurada, sinto o vazio da tua palma contra a minha, os dedos finos que não se enroscam nos meus, sem anéis ainda com a inocência de criança sem mácula nem compromisso. Vejo o teu cabelo solto escorrido a brilhar sob o Sol e peço-te um sorriso e que seja simples, sincero, espontâneo, quero um sorriso teu que possa cruzar com um sorriso meu. Vejo os teus olhos doces e perdidos e peço-te uma lágrima, quero misturar as nossas lágrimas e sentir os teus olhos molharem-me a cara. Um Sorriso e uma lágrima e algumas palavras, eu sei que te faltei e que por isso agora me queres faltar, matas o nosso futuro porque não tivemos passado. Já não poderei ver o corpo que descerás à terra, nem tu o passado que não conseguirás enterrar com ele e sinto agora a dor que sentirás depois quando já nos for tarde de mais. Vejo o teu cabelo solto e vejo os teus olhos doces e olho-te como se olhasse um espelho que me reflecte um lamento pela semelhança com que me vejo quando te olho.