Estreias a minha pele na tua, com avidez.
Estreias-me no mover das ancas, no par e passo sem trajecto, sem partitura que nos recorde de onde estamos, para onde vamos.
Estreio-te no coração, às colheradas, o sabor a mel com a pitada picante do medo, fogo-fátuo que me borda a alma da tua luz. Assim, encadeada, abraçando-te. Como se temesse que fosses feito de espuma e, num abrir das portadas da janela, saísses de encontro às nuvens...
Estreias-me nos teus sonhos, devagarinho, sem dares conta, sou como o aroma da tua pele que já se não desprende de ti.
Estreias a tua voz no meu pescoço e os teus dedos no meu cabelo. Queimas-me até às entranhas, sem dares conta.
Estreias-me nesse teu mundo de corações e letras desenhadas no tejadilho, cantas-me e encantas-me, de mansinho. E dizes-me impunemente que me queres, com a boca cheia de "amo-te" vorazes que me formigam nas pernas que não me obedecem.
Estreias-te nos meus sentidos despertos, invades-me os espaços vazios, preenches-me o corpo com o teu calor e a tua boca vermelha e doce.
E eu estreio-me nessa tua casa desarrumada, nesse teu coração imenso, aninho-me no canto do quarto e deixo-me embalar nessa tua dança leve, vens-me buscar pela mão e sussurras-me os passos correctos, ensinas-me a bailar-te e eu ensino-te a amar-te e seguimos assim, seguros um no outro, esvoaçando...
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on quarta-feira, março 17
at quarta-feira, março 17, 2010
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