Até que idade se pode brincar com as palavras? Jogá-las ao ar como instrumentos de malabarista e deixá-las cair em invento de novas formas e significados. Pego nas palavras que me ocorrem, naquelas que sem mais razões me surgem de repente na cabeça e não sei porquê são palavras de raiva, não sei porquê ou talvez porque a música que me inspira é vigorosa em acordes e as palavras me fluem duras e ásperas e não sei bem o que fazer com elas porque o Natal se aproxima e não é uma época para usar palavras de raiva, devia procurar palavras poéticas, mudar o tom da música que ouço e mergulhar na inspiração de palavras de harmonia e de redenção e generosidade, mas o Natal não me inspira poesias mas hipocrisias e outras heresias e eu gosto de brincar com palavras.
Hoje estou aqui para brincar com palavras e arrumo a raiva e a falta de poesia numa frase vazia sem sentido nem contra senso e avanço com um jogo de palavras que confesso me é fácil jogar, tenho jeito para brincar com palavras, é para mim uma habilidade natural, não será com certeza um talento mas uma simples habilidade a de encaixar palavras, estou mais próximo de um pantomineiro de palavras do que um cantor de palavras e assumo a pele de um palhaço triste que pega em letras e compõe frases que não se tornarão obras de arte mas quando muito jingles de ficar no ouvido.
Eu hoje estou aqui e nada mais consigo fazer com elas do que brincar com as palavras e ensaio um arranjo verbal que possa ainda usar nesta época de Natal, monto acentos em bolas de letras e em fitas alternadas de muitas cores adjectivadas mas não consigo escamotear da cabeça algumas das palavras que me vão azedar os próximos dias, nas ruas há muitas luzes e brilhos e tudo me contradiz a não dever incorporar alegria nas frases que componho enquanto brinco com as palavras mas eu sou um trambiqueiro de palavras, limitado pela ausência, pela dor, pela falta, pela mudança que trás mas também tira e porque quando as faço rodopiar no ar sempre deixo cair algumas palavras em sentido ou no sentir.
Gosto de brincar com as palavras mas sei compreender o poeta que fingia e eu finjo com as palavras, finjo realidades e fingimentos nas entradas sem saída, finjo brincar com as palavras enquanto me escondo por dentro delas…
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on segunda-feira, dezembro 7
at segunda-feira, dezembro 07, 2009
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Privilégios noutras paragens
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