"Consigo prever quando ele chega. Mesmo antes de ele se levantar da sua cama, consigo antever os seus movimentos. Esta noite não dormi. Ando com insónias. Deve ser do calor. Eu acho que tem a ver com o facto de eu dormir num colchão no chão. Acho que sinto as vibrações, o despertar do seu corpo, aquele momento antes de ele acordar. Nos dias normais, quando durmo durante a noite, é neste momento que acordo. Incrivelmente, não acordo quando ela vai, meia hora antes trabalhar. Sim, porque eu não sei porquê, ele demora meia hora a levantar-se e a vir. E eu espero, expectante, essa meia hora. Já sei em que momento ele vai abrir a porta, em que momento eu o vou ver, aquela figura pequena, mais pequena que eu, entrar por ali dentro e deitar-se ao meu lado. É verdade. Ele é mais pequeno que eu. Mede 1.56 contra o meu 1.60. E 1.60 agora, porque ainda estou a crescer. Não sei se é de não ter dormido toda a noite, mas vejo que se eu quisesse podia matá-lo. Não?
Volto-me na cama. Ele vai acordar dentro de meia hora. Ela acabou de sair. Ainda tenho um bocadinho de tempo. Parece que estou a fazer ronha antes do despertador tocar, com aquela suave e doce sensação de que ainda falta um bocadinho. Mas afinal é pior. Sim, ainda falta um bocadinho, mas para entrar num pesadelo. Quem sabe para ser um pouco desnudada, quem sabe para sentir coisas onde não as deveria sentir. Literalmente. Estou a perguntar-me a mim mesma como estou a conseguir viver com isto. Eu sei que alguma coisa está errada aqui, eu sei que as peças não estão certas, mas não consigo ver onde nem porquê. Se eu lhe contasse, a ela, que diria? Não ela, que sai todas as manhas para trabalhar e me deixa à sua mercê, mas ela, a amiga da escola, que conversa longamente comigo sobre as suas descobertas sexuais com o namorado.
Nessas conversas, eu digo, silenciosamente, para mim, que sei o significado de algumas das coisas que ela me conta. Mas secretamente. Ninguém, mas mesmo ninguém sabe. Nunca uma única palavra foi proferida por mim. Ela, segundo ele, sabe. Ele conta tudo à sua esposa, que por acaso é a minha mãe e se ela, a mãe não faz nada, como é que pode estar errado? Não pode. Mas eu não deixo de me sentir desconfortável. Se calhar a culpa é minha.
Passos. A meia hora passou. Eu não passo a meia hora entre o sonho e o pesadelo a pensar, mas eu hoje realmente não consegui dormir. Ainda foi à casa de banho, mas já está a caminho. Tudo acontece rápido, e previsivelmente, mas ao mesmo tempo parece que está activado o slow motion da cena. Assim que ouço a porta abrir, fecho os olhos, e finjo que estou a dormir. É a minha técnica para que ele chegue, deite e durma também. E assim não é um pesadelo. Apenas um sonho muito mau. A roupa interior ficou para trás. A dele, porque a minha está colada ao meu corpo, a tentar proteger-me. Um calafrio percorre-me a espinha. Ele levanta os cobertores e faz frio. E eu encolho-me, antevendo tudo o que vai acontecer. Parece que no meu corpo tudo se prepara, quase que sinto as reacções químicas da coisa, para receber aquilo. Sinto uma mão a passear sobre o meu peito, e um corpo cavernoso por detrás. E fico quieta, petrificada.
Resulta. Ele adormeceu e ainda que eu não me possa mexer, pelo menos mais não há.
Fico, agora sim meia hora à espera que o despertador toque. Mas ao contrário da meia hora de antes... Agora anseio por libertar-me desta prisão, e deste abraço que todos os dias me esmaga um bocadinho mais."
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on domingo, fevereiro 15
at domingo, fevereiro 15, 2009
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Delirios deMente
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6 Devaneios
Moi...
Não digas nada!
LOL
é só um texto!
LOOOOOOOOOOOOOOOL
17 de fevereiro de 2009 às 12:38
Tá espantoso!!!!!!!! por momentos parece k consegui entrar na mente dessas tristes vitimas...
18 de fevereiro de 2009 às 01:57
branca disse...
Obrigado!
;)
20 de fevereiro de 2009 às 23:53
Bolas!!!!! Mas que conto...
27 de fevereiro de 2009 às 04:30
Bruno Fehr disse...
?!!!!
:S
Obrigado, sem perceber a coisa...
1 de março de 2009 às 13:12
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