Não me lembro de quando as ouvi pela primeira vez, começo a acreditar que sempre as ouvi, que sempre estiveram comigo, que sempre me controlaram mas só agora reparei nelas.
Questiono-me sobre quem são, o que querem... Até que, as questionei. Inicialmente ignoravam as minhas perguntas dizendo unicamente o que queriam, mas com o tempo, passei a obter respostas, ou pelo menos meias respostas:
"Eu sou tu"
"E quem sou eu?"
"Ninguém. Desiste!"
"Desisto de quê?"
"Desiste!"
No inicio eram duas. Uma era suave e reconfortante. A outra arrogante e agressiva. Com o tempo fui ouvindo a suave cada vez mais distante, até que a deixei de ouvir, ficando dominado pela outra.
Esta voz não sou eu, não posso ser eu, nem o eu que criei durante a minha vida. Ela diz-me para desistir, que o mundo não precisa de mim, que se eu desaparecer ninguém me iria procurar ou sentir a minha falta. Talvez seja verdade, não sei.
Eu não quero morrer. Não tenho razões para viver, mas não significa que queira morrer. Quero viver em paz. Eu estou em paz com o mundo, mas não estou em paz comigo. Paz é tudo o que quero, mas a voz não me deixa.
"Que fazes?"
"Deixa-me!"
"Para que queres essa corda?"
"Deixa-me, já disse!"
Hoje decidi fazer mudanças radicais na minha vida. Não sou bom em matemática ou calculo, nem tenho tempo para pensar nisso.
Preciso de uma base sólida. Passo a corda pelo cano de escoamento de águas da varanda, abraçando toda a parede da mesma. Dou um nó de marinheiro que aprendi num livro que comprei para o efeito, só para ter a certeza que não se desata. Tenho a base fixa que preciso.
Na outra extremidade faço um outro nó bem mais fácil, um nó de correr com laço. Enfio a mão nesse laço e puxo. O nó está perfeito.
Dou folga à corda e coloco-a em volta meu pescoço. Lanço-me do terceiro andar.
A corda estica. 1 segundo de dor. Paz, é o que sinto.
Continua dia 21.02.2009