Coma (parte 3/3)  

Posted by Bruno Fehr in

Falhei mais uma vez, como em tudo vida nem na morte tive sucesso. Como é possível falhar na vida e na morte? O que preciso eu fazer para morrer?
Uma enfermeira, diz-me: "bem vindo de volta", como se ela se importasse. Como se alguém pudesse ser bem vindo de partida. Como se eu devesse estar feliz por aqui estar.
Quero voltar para onde estava. Não era vida, não era morte, era sim o melhor dos dois mundos, o meu coma.
Um médico informa-me que sofri danos graves na coluna vertebral. Ora, aqui está um informação útil, mas a intenção era mesmo essa, mas os danos deveriam ter-me levado à morte e não aqui, neste antro de malucos que constatam o óbvio.

"Temo que não voltará a andar"
"Desculpe?"
"Você encontra-se paralisado do pescoço para baixo. Lamento"

Lamenta, diz ele. Eu lamento que ele lamente quando não tem nada que lamentar, como se o facto deste parvinho lamentar me fizesse sentir melhor. Lamento mas não faz.
Não vou voltar a andar, nem sequer ficar de pé. Nunca irei conseguir comer sozinho, abraçar alguém, nem pegar numa caneta e perder-me de desabafos. Vou ser uma cabeça com um corpo parasita. Um inútil. Inútil, sempre fui, mas agora serei um inútil dependente. O mais triste é que serei dependente das pessoas que tentei abandonar.
Toda a gente tem direito a uma segunda oportunidade, mas eu só tive uma. Uma única chance de me matar. Falhei e como castigo não poderei conseguir esse objectivo. Eu não me queria tentar matar, eu queria conseguir.

"Foi-te dada uma segunda oportunidade de viver, segura-te a ela com toda a tua força", diz-me a enfermeira em tom sussurrante, interrompendo os meu choro silencioso.
Eu não pedi uma segunda oportunidade de viver. Uma segunda oportunidade de viver, deveria vir acompanhada por uma segunda oportunidade de morrer, e não vem. Mais um vez, e tal como à nascença a vida é-me imposta de uma forma cruel e a minha vontade de morrer não é aceite. Quero libertar-me, deixem-me ir...

A eutanásia é crime, mas só é crime porque alguém com poder dado por mim, com ordenado pago por mim o diz. A eutanásia deve ser uma escolha, uma recusa de vida imposta, uma vontade de ser finalmente livre e de libertar quem nos rodeia. Eu quero, eu sei que quero, nem mais nem menos que queria quando saltei daquele terceiro andar. Quero morrer.
Este meu estado clínico deprime-me por não poder escolher, por não ter controlo sobre mim. Choro numa dor tremenda, a dor de viver.

Só confio na Renata e por isso peco-lhe para ela escrever um E-mail a um amigo na Áustria. Ela não sabe Alemão, mas escreve o que lhe dito. Enquanto escreve, chora, perguntando "o que estás a fazer?". Não lhe respondo, mas as lágrimas dela queimam-me por dentro, ela é a única pessoa no mundo que não quero magoar, é a única pessoa no mundo com valor para mim e se pudesse, seria a única pessoa do meu mundo, do mundo que nunca criei.
A Renata tenta ler o que escreveu, mas não o sabe ler. Mostra-me e eu leio:

"Dr. Kusch, necessito com o máximo de urgência dos serviços da sua invenção. Irei transferir o dobro do valor que o senhor cobra pela máquina, para que me seja entregue o mais rápido possível"

O E-mail é enviado. Não cedo às pressões da Renata de lhe dizer o que acabei de fazer. Sem perceber o que está a fazer ela faz a transferência online em meu nome.
A Renata não sabe o que fez e nem imagina o quanto vou necessitar dela.

Já em casa, sou cuidado por duas enfermeiras que fazem turnos entre si. Recusei a ajuda de familiares, pois enquanto tiver dinheiro, poderei pagar e quando o dinheiro terminar, já cá não estarei.
Afinal há uma segunda, que é também a ultima oportunidade e que acaba de chegar pelo correio.
Dispenso as enfermeiras, não as quero em minha casa, a Renata tem a chave e deve estar quase a chegar, tal como prometeu.

"Abre-me essa caixa"
"O que tem dentro?"
"É um aparelho médico"

A Renata abre e vê um estranho aparelho, acompanhado de umas seringas e tubos.

"Para que serve isto, tudo?"
"É para um tratamento"
"Tratamento?"
"Sim, a minha única chance"
"E podes ficar melhor com isto?"
"Não posso. Vou ficar melhor!"

Ela liberta um sorriso, acreditando em tudo o que disse. Não lhe quero mentir, mas não lhe posso dizer a verdade, por isso digo meias verdades.
Antes de ela seguir as minhas instruções, digo-lhe para calçar umas luvas que as enfermeira lá tinham deixado. Não poderia partir e deixar que ela fosse punida pela minha morte.
O aparelho que comprei foi um exemplar da polémica invenção de um médico Alemão a viver na Áustria, chama-se a Máquina Da Morte, na verdade é uma máquina que efectua a eutanásia sem que alguém comenta um crime ao olhos da lei. Após a maquina ser montada e ligada à veia de quem quer morrer, poderá ser o próprio a activá-la.
A máquina está ponta, está ligada à corrente e só falta ligar a máquina a mim. Peço à Renata para substituir o meu tubo do soro, pelo da máquina. Os olhos dela brilham repletos de lágrimas, os lábios tremem. Ela sabe.

"Não tenhas medo, confia em mim"

Digo eu sorrindo. Ela acena a cabeça e continua.
Está tudo pronto.
Digo-lhe para colocar o controlo remoto debaixo do meu queixo, as luvas no lixo, onde se vão misturar com todas as outras e peço-lhe para partir. Preciso que ela saia, preciso de lhe dar tempo para sair e ser vista por outras pessoas. Preciso de esperar uma horas até ao meu fim.
Antes de partir, ela beija-me a face e de coração destroçado, diz:

"Não me deixes assim..."

Apesar da dor no coração de a ver daquela maneira. Saber que estou a magoar alguém que adoro, custa-me, mas tenho de ser forte, pois é isto que eu quero. Respondo-lhe unicamente:

"Não me obrigues a viver, assim..."



FIM

Coma (parte 2/3)  

Posted by Bruno Fehr in

Olho em volta e nada vejo. Escuridão total. Isto certamente não é o céu nem o inferno. Não tenho frio nem calor. Em algum lugar estarei com toda a certeza e tudo não termina com a morte.
Gosto disto. É como se estivesse numa sala sem paredes. Talvez tenha paredes, eu é que não as vejo.
Reparo que não falo comigo, simplesmente penso. Quem bom. Pensar é sem duvida a melhor maneira de conversar com alguém que nos ouve realmente. Alguém, que mesmo que não nos entenda, nos ouve e nos apresenta uma infinidade de possíveis soluções, respostas, argumentos, tal como as que eu me apresentei, tendo no final optado pelo suicídio.
Não estou minimamente preocupado com a reacção das pessoas ao verem-me pendurado pelo pescoço, do alto da minha varanda. Rio, ao imaginar-me pendurado ao nível da janela da sala do meu vizinho do primeiro andar, fazendo-lhe uma careta.

Aqui, neste estranho e escuro local para onde fui transportado após a minha morte, ninguém me pode incomodar, ninguém me pode chatear. É o oposto do mundo em que eu vivia, não querendo viver. Gosto de aqui estar e mesmo agora cheguei. Gostaria que pudessem ver toda esta paz. É lindo, pois não tem nada para ver. Mas, não posso mostrar a ninguém e ainda bem, pois se o fizesse mais gente quereria para aqui vir tornando este mundo, no inferno do qual acabei de fugir, no qual a vida me foi imposta, obrigando-me a suportá-la. É aqui quero morar, eu e o meu pensamento, que juntos somos um.
Aqui posso-me perder em pensamentos, estar sozinho sem nunca estar só. Eu gosto de estar comigo de conversar comigo, nem sempre me compreendo, mas ouço-me e no fundo é só isso que precisamos, de alguém que nos ouça, mais do que isso, que nos compreenda ou pelo menos tente.
Aqui, já não ouço vozes, só o meu pensamento, que na verdade parece não ser unicamente dentro da minha cabeça, pois ouço-o com o eco deste local que me parece infinito.
Não me sinto a passar pelo tempo, é como se ele não existisse, tal como nunca existiu, mas que mesmo assim sempre controlou a minha vida. Não me sinto cansado, sinto-me novo e livre.

O meu silencio é interrompido por sussurros... são vozes, mas não as que ouvia antes. Estas parecem falar de um local fora do meu infinito. Vozes de pessoas atarefadas que quebram o meu silencio. Não. Não quero ser interrompido, quero o meu ruidoso silencio de pensamentos, quero perder-me em divagações sem sentido, quero tentar perceber o que penso e conversar comigo próprio. Deixem-me.

"Não vais ouvir o que dizem!"
"Voltaste?"
"Eu nunca parti"
"Mas..."
"Podes tentar matar-te, que eu não te vou deixar"
"Tentar?"
"Vida. Morte. Nem tudo é preto e branco, há o cinzento"
"Eu matei-me"
"Há coisas piores que a morte"
"Eu estou vivo?"
"Não"
"Morto?"
"Não"
"Então mas..."
"Ouve as vozes"
"Estão longe, não consigo ouvir"
"Não ouves porque não as queres ouvir, elas falam para ti. Luta"
"Luto? Passaste a minha vida a dizer-me para desistir"
"Ahahah, luta"

Não estou morto, não estou vivo, onde estou? Como estou?
Não vejo uma luz ao fundo do túnel que me levará ao céu, nem um buraco sem fim que me levará ao inferno. Nada!
Sinto dor. Não é bem dor, sinto uma dormência pelo corpo, uma inércia que me parece dor, mas não dói, é... Estranho.
A minha escuridão é quebrada por uma linha de luminosidade horizontal que ocupa todo o meu campo de visão. Uma linha semelhante à do horizonte que dividia o mar do céu, em todos os por-do-sol que vi. Gostaria de ter visto mais.
A linha aumenta de tamanho invadindo o meu confortável mundo. Nada vejo, a luz cega-me. Vejo sombras, e lentamente os meus olhos habituam-se à luz o que me permite finalmente ver...

... Não!!!!



Final dia 23.02.2009

Coma (parte 1/3)  

Posted by Bruno Fehr in

As vozes não me deixam pensar, não me deixam dormir. Em desespero imploro-lhes para que parem. Não param e voltam sempre.
Não me lembro de quando as ouvi pela primeira vez, começo a acreditar que sempre as ouvi, que sempre estiveram comigo, que sempre me controlaram mas só agora reparei nelas.
Questiono-me sobre quem são, o que querem... Até que, as questionei. Inicialmente ignoravam as minhas perguntas dizendo unicamente o que queriam, mas com o tempo, passei a obter respostas, ou pelo menos meias respostas:

"Eu sou tu"
"E quem sou eu?"
"Ninguém. Desiste!"
"Desisto de quê?"
"Desiste!"

No inicio eram duas. Uma era suave e reconfortante. A outra arrogante e agressiva. Com o tempo fui ouvindo a suave cada vez mais distante, até que a deixei de ouvir, ficando dominado pela outra.
Esta voz não sou eu, não posso ser eu, nem o eu que criei durante a minha vida. Ela diz-me para desistir, que o mundo não precisa de mim, que se eu desaparecer ninguém me iria procurar ou sentir a minha falta. Talvez seja verdade, não sei.
Eu não quero morrer. Não tenho razões para viver, mas não significa que queira morrer. Quero viver em paz. Eu estou em paz com o mundo, mas não estou em paz comigo. Paz é tudo o que quero, mas a voz não me deixa.

"Que fazes?"
"Deixa-me!"
"Para que queres essa corda?"
"Deixa-me, já disse!"

Hoje decidi fazer mudanças radicais na minha vida. Não sou bom em matemática ou calculo, nem tenho tempo para pensar nisso.
Preciso de uma base sólida. Passo a corda pelo cano de escoamento de águas da varanda, abraçando toda a parede da mesma. Dou um nó de marinheiro que aprendi num livro que comprei para o efeito, só para ter a certeza que não se desata. Tenho a base fixa que preciso.
Na outra extremidade faço um outro nó bem mais fácil, um nó de correr com laço. Enfio a mão nesse laço e puxo. O nó está perfeito.
Dou folga à corda e coloco-a em volta meu pescoço. Lanço-me do terceiro andar.

A corda estica. 1 segundo de dor. Paz, é o que sinto.



Continua dia 21.02.2009

Sem título.  

Posted by Jane Doe in

"Consigo prever quando ele chega. Mesmo antes de ele se levantar da sua cama, consigo antever os seus movimentos. Esta noite não dormi. Ando com insónias. Deve ser do calor. Eu acho que tem a ver com o facto de eu dormir num colchão no chão. Acho que sinto as vibrações, o despertar do seu corpo, aquele momento antes de ele acordar. Nos dias normais, quando durmo durante a noite, é neste momento que acordo. Incrivelmente, não acordo quando ela vai, meia hora antes trabalhar. Sim, porque eu não sei porquê, ele demora meia hora a levantar-se e a vir. E eu espero, expectante, essa meia hora. Já sei em que momento ele vai abrir a porta, em que momento eu o vou ver, aquela figura pequena, mais pequena que eu, entrar por ali dentro e deitar-se ao meu lado. É verdade. Ele é mais pequeno que eu. Mede 1.56 contra o meu 1.60. E 1.60 agora, porque ainda estou a crescer. Não sei se é de não ter dormido toda a noite, mas vejo que se eu quisesse podia matá-lo. Não?

Volto-me na cama. Ele vai acordar dentro de meia hora. Ela acabou de sair. Ainda tenho um bocadinho de tempo. Parece que estou a fazer ronha antes do despertador tocar, com aquela suave e doce sensação de que ainda falta um bocadinho. Mas afinal é pior. Sim, ainda falta um bocadinho, mas para entrar num pesadelo. Quem sabe para ser um pouco desnudada, quem sabe para sentir coisas onde não as deveria sentir. Literalmente. Estou a perguntar-me a mim mesma como estou a conseguir viver com isto. Eu sei que alguma coisa está errada aqui, eu sei que as peças não estão certas, mas não consigo ver onde nem porquê. Se eu lhe contasse, a ela, que diria? Não ela, que sai todas as manhas para trabalhar e me deixa à sua mercê, mas ela, a amiga da escola, que conversa longamente comigo sobre as suas descobertas sexuais com o namorado.
Nessas conversas, eu digo, silenciosamente, para mim, que sei o significado de algumas das coisas que ela me conta. Mas secretamente. Ninguém, mas mesmo ninguém sabe. Nunca uma única palavra foi proferida por mim. Ela, segundo ele, sabe. Ele conta tudo à sua esposa, que por acaso é a minha mãe e se ela, a mãe não faz nada, como é que pode estar errado? Não pode. Mas eu não deixo de me sentir desconfortável. Se calhar a culpa é minha.

Passos. A meia hora passou. Eu não passo a meia hora entre o sonho e o pesadelo a pensar, mas eu hoje realmente não consegui dormir. Ainda foi à casa de banho, mas já está a caminho. Tudo acontece rápido, e previsivelmente, mas ao mesmo tempo parece que está activado o slow motion da cena. Assim que ouço a porta abrir, fecho os olhos, e finjo que estou a dormir. É a minha técnica para que ele chegue, deite e durma também. E assim não é um pesadelo. Apenas um sonho muito mau. A roupa interior ficou para trás. A dele, porque a minha está colada ao meu corpo, a tentar proteger-me. Um calafrio percorre-me a espinha. Ele levanta os cobertores e faz frio. E eu encolho-me, antevendo tudo o que vai acontecer. Parece que no meu corpo tudo se prepara, quase que sinto as reacções químicas da coisa, para receber aquilo. Sinto uma mão a passear sobre o meu peito, e um corpo cavernoso por detrás. E fico quieta, petrificada.

Resulta. Ele adormeceu e ainda que eu não me possa mexer, pelo menos mais não há.

Fico, agora sim meia hora à espera que o despertador toque. Mas ao contrário da meia hora de antes... Agora anseio por libertar-me desta prisão, e deste abraço que todos os dias me esmaga um bocadinho mais."

A Saudade  

Posted by John Doe in

A saudade é algo de quase inexplicável. Como conseguir explicar a palavra saudade? Como conseguir partir isto de forma compreensível? Quase impossível diria eu. Apesar de muitas vezes essa saudade se traduzir em manifestações físicas, através de um batimento cardíaco mais acelerado, ou um dor chorosa, ou o olhar perdido, definir o sentimento em si é tremendamente difícil. Poderão dizer os estimados leitores que será assim com todos os sentimentos. É um facto que é. Mas a saudade é tão particular, tão profunda, tão complexa que o é mais ainda. Porque se repararmos bem, a saudade não resulta de um sentimento, mas sim da junção de vários sentimentos. Passo a explicar, para ter saudades de alguém é necessário amar, no sentido mais lato do termo, necessário gostar, querer, desejar. E se mal conseguimos definir estes sentimentos, como então chegar à saudade? O facto é que as temos, dos amigos, dos familiares, seja de quem for que gostamos. Podemos sentir saudades de um aroma, de um sabor, de tanta e tanta coisa. E se podemos ter vários níveis de amor, de saudade só temos um. Não sentimos saudades de maneiras diferentes, ou sentimos ou não sentimos.

Quem já não teve saudades do cheiro do mar, ou de erva molhada, ou do perfume num corpo, ou de um gargalhada com um amigo, ou de ver a placa a dizer Portugal na estrada? E quem já não teve saudade de alguém ainda antes de sair fisicamente de junto dessa pessoa? Quem já não sentiu o aperto no peito só com a ideia que dentro de momentos os olhos já não descansam na figura?

Dizem alguns que a palavra saudade é nossa, portuguesa, que mais ninguém no mundo a tem. Talvez seja, não conheço todas as línguas do mundo para o dizer de forma segura. Talvez porque afinal, nós os que falamos português, porque devemos aqui incluir todos os que falam a nossa língua, sejamos um povo sentimentalão, que precisa de palavras para exprimir o que sentimos.

Mas volto ao que disse, apesar de não ser definível, o que é facto é que as sentimos.

E por isso um desafio. Façamos uma lista do que sentimos saudades na nossa existência, aquilo que o simples mencionar da palavra saudade nos faz recordar, e vamos matando essas saudades.

Para finalizar, recordo as palavras de Sérgio Godinho:

"Matar não gosto muito,
Mas saudades é diferente.
É como matar pulgas,
Alivia a gente."

Altar  

Posted by mf in

Rastejo por vales e colinas
Cobertos de tojo quente
Já pontilhado de geada,
Na suavidade felina
De quem te sabe indefeso.

Avanço devagar, abrindo trilhas
Desbravadas em passo impudente,
Cada dedo como pegada
Entrando pelos covis,
Desrespeitando o defeso.

O olfacto serve de guia
A um desejo indigente.
A cada haste arredada
Exalo mais na selva densa
Odor de sacerdotisa.

Solto o ar pelas campinas,
Glacial, incandescente.
Sobem gemidos em toada
No pasto húmido de seiva,
Incensado pela brisa.

Estendo-me na nua pedra pia
Em labareda, já demente,
Pelas garras demarcada,
Bem ciente do alívio
Que o fogo profetiza.

Ajoelho em idolatria
No cume em êxtase ardente.
Abraço a impetuosa ramada,
Mergulho na seiva aspergida
Em que por fim me reteso.

Inclino em doce alquimia
Em adoração reverente.
É esta a minha morada,
Altar-oferenda de paixão,
Em que te sinto preso.

Karalhoke 3  

Posted by Bruno Fehr in

Este é o terceiro e último texto do Karalhoke, que seria suposto ser feito por mim e por um amigo pessoal "Rubs", que infelizmente não poderá participar, por isso, esta rubrica termina aqui.

A ideia é colocarem o vídeo no play, e ignorarem a letra original, cantando com a minha versão melhorada do tema.

Paletes de Amor  

Posted by Bruno Fehr in




Paletes de amor

Farto de esperar
Não ouço o portão
eu até já,
já matei o cão
Parto a janela
destruo o nosso quarto
pois estou aqui
e tu a encornar-me
Sigo a 100 à hora
o carro não dá mais
numa curva apertada, atropelei, o moço dos jornais
Chego a um motel
o teu carro estava lá
não sei como rimar
por isso eu digo, trálá lálá lá

E quando te encontrar
a cara te vou partir
vou-te sodomizar
tu até vais ganir
E quando te encontrar
o melhor é fugir
mas vais gostar vais sentir
as minhas paletes de amor

Cobrias como uma louca
Ao gajo mijei-lhe na boca
as minhas mãos tremiam, eu olhei para ti e nao disse nada
Voltei costas, vim-me embora
começaste a chorar
entre lágrimas e ranho
disseste que me amavas
para eu voltar

E quando te encontrar
a cara te vou partir
vou-te sodomizar
tu até vais ganir
E quando te encontrar
o melhor é fugir
mas vais gostar vais sentir
as minhas paletes de amor

E quando tu chegares
Já tens as malas à porta
vai para o caralho
pois és uma porca
E quando tu chegares
Vais dormir com a mamã
mas estás fodi iiii i da
vais sem um sutien.

Vais sem um soutien
Vais sem um soutien


Nota: Este é o último Karalhoke que escrevo. Esta rubrica termina hoje. Obrigado.