Posted by Jane Doe

"Não queiras estragar o que temos de bonito. É uma pena, por favor, eu sei que fui uma burra, perdoa-me, por favor não vás."

Acabei de acordar. Ligo o pc, aquele hábito matinal de quem tem algum vício, que não consegue deixar e enquanto inicia, fumo um cigarro à janela. Dois vícios juntos logo de manhã, penso, mas não estou nem aí. Hoje é sábado, consegui dormir mais que nos outros dias mas acordei mais cedo do que queria. Não sei bem o que vou fazer. Sei que há jogo, sei que o pessoal se vai reunir todo no sítio habitual, mas não sei realmente se me apetece ir. Apetece-me ficar em casa, a beber cerveja, comer amendoins, tipo macaco. Não sei.

O cigarro acaba, o pc já está mais que pronto a me receber, e eu vou, e sento-me e abro as páginas do costume. O mail, o blog, o website do trabalho. O mail tem muitas mensagens, recebo mails de todo o mundo, a minha profissão obriga-me a tal, mas no meio, na mistura, está um mail dela. Distingo-o no meio de tantos porque nunca tem título. Eu não gosto de mails sem títulos, é como caixas surpresa, e os do trabalho, e amigos também costuma vir devidamente sinalizados. Ela diz que dá trabalho a colocar títulos a mails, que não entende esta minha coisa com os mails entitulados.

Ela. Ninguém em especial, com quem partilhei duas vezes a cama, algumas vezes noites de conversa mas nada de mais. Tudo parecia correr bem, ao princípio, eu sempre deixei claro que só queria sexo, ela disse que tudo bem, que também queria o mesmo. Gostei da clareza dela. Mimei-a, porque eu mimo as mulheres com quem me deito, porque faz parte, porque também gosto que elas gostem. E apesar de muitas vezes ser one night stand, desta vez foram duas, e algumas noites de conversa. Soube bem, talvez melhor do que acreditei ao princípio, mas depois acabou. Sempre deixei claro que eu não me apaixono, nunca me apaixonei, talvez fruto de alguma estranha evolução no codigo genético. Tudo acabou, pois para completar o pacote, eu farto-me depressa, e ela, apesar das conversas interessantes, não foi excepção.

Cada vez menos entendo a cabeça das mulheres. Eu sou claro, deixo tudo esclarecido, elas dizem que sim, que conseguem lidar com isso, mas muitas das vezes a verdade é que estão na esperança de me mudar, ou de ser a the one. Não são. Dure uma noite, dure 3 ou dure 5, o meu record, elas nunca me ficam na cabeça. Nunca me fica o cheiro dos corpos, ou a vontade de continuar. Não fica saudade da voz, não fica o anseio de um telefonema ou uma sms, em suma fica nada.

Ela é igual. Talvez tenha pensado que me conquistaria pelo poder da conversa, de uma conversa inteligente, que lhe reconheço, mas eu já tive de tudo na cama. Fora dela não tenho espaço para ninguém.

Abro o mail. Sei que ontem tentou ir ter comigo ao trabalho. Ficou triste, muito, porque depois da última noite lhe disse que não queria estar mais com ela. E eu sou assim. Ela soube-o do princípio, que eu não fico por ninguém.

"Não queiras estragar o que temos de bonito. É uma pena, por favor, eu sei que fui uma burra, perdoa-me, por favor não vás."

Não sei sequer que responder. O rato ronda o botão do delete, num passo de indecisão. Não sei o que possa ser bonito no que tivemos. Umas noites de foda, outras de conversa, e nada mais. Também não sei onde se culpa ela, em quê, eu culpa-la-ia no facto de ela acreditar que com ela poderia ser diferente, que me poderia apaixonar.

"Não existe nada de mais numas noites de foda. Eu sempre te disse que eu não me apaixono, e sempre aceitaste isso. Sempre te disse que seria uma duas ou três noites e que eu iria embora. E tu disseste, sem problema. Pensei que terias entendido. Se dizes que tudo bem por ti eu posso partir do principio que entendes, e aceitas, ou não? E porque me pedes perdão? Até agora não fizeste nada de errado, a menos que me peças perdão por teres pensado que contigo seria diferente. Não tenho nada que perdoar, tu tens de te perdoar a ti mesma pela ilusão que criaste. Por mim, não tenho nada que perdoar. Nem nada a dever-te. Apenas peço que cumpras com a tua palavra de entendimento, e não me chateies mais."

Não gosto de ser rude, não gosto de dizer não me chateies, larga-me a braguilha, etc. Mas há alturas em que tenho de ser duro, um pouco mais do que sou, porque elas precisam cair na real. De que a única coisa que me interessa é o sexo. Apenas isso, nada mais.

O mail é enviado, eu marco todos os outros como lidos, leio depois, e fecho a caixa de correio. Vagueio pelos blog´s costumeiros, há sempre novas coisas para ler, e muito esta gente escreve sobre o amor, credo! Leituras rápidas, atravessadas, um comentário aqui, outro ali, o site do trabalho continua igual.
A fome começa a fazer-se sentir, quase uma hora depois de ter acordado, é sempre assim. Volto a desligar o pc.

Hoje é sábado, são 11.30 da manhã. Podia ir ao ginásio, e ir almoçar com os amigos alongando-me para o jogo de futebol. Está a chover. Alongo-me no sofá, já de pequeno almoço tomado, e deixo um cigarro a queimar entre os dedos, enquanto corro a zapping todos os canais.

This entry was posted on sexta-feira, abril 2 at sexta-feira, abril 02, 2010 . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

10 Devaneios

TheMistress  

Duas palavras: Que Horror!
As coisas não são assim tão lineares.. digo eu.
Existem "os sentimentos" que aparecem do nada sem se esperar e/ou querer. Sinceramente tenho pena dessa Ela..

4 de abril de 2010 às 21:25

TheMistress:

Para a personagem são como ela as descreve.

Vou levar este "Que horror!" como um elogio, pois parece ter atingido um dos objectivos.

;)

5 de abril de 2010 às 05:18

continuando assim...:

Por favor poupe-me. O principal motivo pelo qual não visitei o seu blogue para ler a sua história é devido à sua constante e irritante publicidade em blogues alheios. Você não lê nada, você limita-se a publicitar o que escreve. Pessoalmente acho isso um insulto, comentar algo que terceiros escrevem, sem ler, para publicitar o que escreve!

Obviamente o seu comentário foi apagado tal como todos irão ser.

5 de abril de 2010 às 05:20

Jane: excelente retrato, mulher! Está muito bem construído, muito mesmo. Gostei, por todos os motivos e mais alguns.

5 de abril de 2010 às 10:06

Mag:

Muchas gracias!

Este texto já tem uns meses, fui buscar ao baú.

;)

5 de abril de 2010 às 18:55

Bruno Fehr:

Obrigada.

;)

5 de abril de 2010 às 18:57

Jane:

Crú.
Duro.
Real.

Quanto à Ela...
Não é fácil dizer Adeus a quem se ama, nem quando sabemos que nunca teremos mais do que o pouco que nos foi dado.
E daí... Torna-se fácil aceitar o Adeus, se não formos pessoas de nos resignarmos a receber apenas migalhas de "qualquer coisa".

Beijo grande, gostei do fundo do baú! ;)

5 de abril de 2010 às 23:19
Anónimo  

Muito bom. Essa "personagem" assemelha-se a alguns homens que conheço. E como Ela, também ha muitas por ai. Mulheres que se contentam com pouco sempre na esperança de que esse pouco se transforme em muito. Porque acreditam que serão especiais, que com elas vai ser diferente.Que serão "the one". Mas nunca são... e às vezes so mesmo as palavras duras e cruas para se convencerem disso mesmo.
:)

6 de abril de 2010 às 19:26

Muito bom, podia ter escrito este personagem, acho que todos os homens por muito que não o queiram admitir têm um bocadinho de vontade de ser assim, é genético :)

Beijos

19 de abril de 2010 às 23:14

"(...) Vagueio pelos blog´s costumeiros, há sempre novas coisas para ler, e muito esta gente escreve sobre o amor, credo!(...)"

O amor ou a falta dele dão origem a muitas palavras e a muitas frases inventadas..até mesmo este texto foi impulsionado por ele!

=)

26 de abril de 2010 às 02:03

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