Orvalho  

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Deixo que a mão escove suavemente a face de uma folha verde e húmida. Percorro descalço estes bosques há mais luas cheias do que me consigo lembrar. Envelheço como as árvores em crescendo na direcção do Sol e permito que os meus cabelos se entrelacem como troncos finos que se afastam do meu corpo ao sabor do vento que me visita como um amigo de todos os tempos, os bons e os maus e aqueles que passaram sem voltar.

Nunca olho para trás no sentido contrário ao que sei ser o caminho. Não sei se as marcas que abandono no chão são visíveis para quem me possa um dia seguir nem quero que me sigam na ideia que possa saber para onde vou ou que os possa conduzir a outro lado que seja melhor ou pior. Não quero ser pastor nem parte do rebanho. Sou aquele por que se espera e pelo qual se desespera, a ínfima parte do infinito na ignorância de algo saber e nada significar.

Rastejo enquanto corro e nado sem asas por isso não me posso afogar no mel ou no fel que se destila de uma gota do meu orvalho, aquele que me escorre do vitral dos olhos. Lamento o destino dos que não vão lá chegar e o destino daqueles que já chegaram no fim do caminho sem ter sentido a suavidade da erva ou a agrura da pedra. Pior do que não ter esperança é esperançar o que não se pode nem faz sentido ter.

Romanceio a minha forma de ver a vida numa comédia trágica de enganos e trocadilhos. Falta-me ainda despir o preconceito da escolha para poder abraçar a doutrina do arbítrio. Saberás tu que me olhas sem perceber quem sou que sou apenas o que vês sem mais nem porém e que o fascínio da minha causalidade não te deve ser causa nem devoção? Saberás tu que o que me ainda me sobra não te deve ser a ambição do que te resta?

Gosto desta noite que me orvalha…

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8 Devaneios

Tenho andado destraido...por aqui nunca ter passeado...vou voltar pela certa,pela qualidade do cantinho.

10 de abril de 2010 às 19:34
Anónimo  

Vir aqui nunca é viagem perdida!! Perfeito como sempre =)

10 de abril de 2010 às 20:46

Senti-me no bosque, senti o cheiro húmido das árvores, o calor da terra nos pés descalços, o vento a abraçar-me a pele.
Agradeço-te essas sensações, de uma beleza indescritível.
Beijo

12 de abril de 2010 às 09:36

Fiquei com vontade de deixar que o orvalho também me leve. muito bom. bjs

12 de abril de 2010 às 13:29

E das manhãs que brilham nas gotas frescas...

Eu gosto de tudo! :)

Beijinho, amiguito :)

13 de abril de 2010 às 01:31

opá, que beleza!

senti-me por segundos paralisada , e é incrivel que são só meras palavras que ordenadas desta forma tão tua saibam ditar sentimentos ... Como esta humildade que sinto cada vez que te leio, adoro esta honestidade LBJ.
Beijos

13 de abril de 2010 às 12:43

Bom texto LBJ, parabéns!
(Desconhecia este sítio...)

Abraço

19 de abril de 2010 às 09:30

Obrigado a todos.

Fico muito satisfeito de ver este espaço a crescer.

Beijos e abraços

19 de abril de 2010 às 23:26

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