De pés na areia observo o mar. Uma visão da qual abdiquei por tudo o que vivi e por nada do queria viver. Voltei para o ver, para o sentir e para nele me fundir, pois por mais que me afaste ele está sempre em mim. Nele nasci, com ele cresci e era ele que lavava as minhas lágrimas, era ele que abraçava a minha alegria e não só nele surfava mas nele vivia.
Pego na prancha e entro, remo para além da rebentação para aquele local único de calma que me invade e me preenche, que sempre me fez sentir livre e me ajudou a descobrir quem sou. O local onde nada se ouve a não ser o seu rugir, as pessoas ao longe, pequeninas, não me podem atingir.
Foi aqui, neste mundo à parte que decidi quem sou e o caminho para aqui chegar. Voltei pela mesma razão, para descobrir um pouco mais de mim e decidir o caminho a seguir nesta nova encruzilhada, não sinalizada e tão confusa.
Espero a onda certa, aquela que parece ter o meu nome e todas as respostas que procuro, e remo, remo com todas as minhas forças como se a minha vida dependesse disso. Ao apanhar a onda coloco-me de pé e por um segundo sou dono do mundo. Mas um pé desastrado, esquecido de tudo o que aprendeu, atraiçoa-me. Caio desamparado, volto à superfície para ser novamente submergido por onda após onda que se quebram violentamente sobre o local onde estou.
Luto por ar e recebo água em troca, e foi aqui que te vi bem à minha frente vestida de negro e sorrindo para mim. Sorri de volta, estico o braço para que a minha mão tocasse a tua e por ti esqueço tudo e sinto que consigo aqui ficar a olhar-te para sempre... Mas tudo acabou nada vejo nesta escuridão, nada sinto a não ser o meu corpo a ondular ao sabor da corrente e deixo que me leve.
Acordo na praia. O sol está escondido por um intenso nevoeiro. A minha prancha descansa a meu lado. O mar está parado. Nem uma onda. Sonhei? Julgo que sim pois estou completamente seco.
Pego na prancha e parto, voltando-me para um último olhar, e ao longe sobre as águas vejo-te, agora de branco, a sorrir dizendo-me Adeus.
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on domingo, abril 18
at domingo, abril 18, 2010
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Contos de Bruno Fehr
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