Sou estrangeira neste mundo, clandestina neste corpo.
Vento de pó de estrelas, soprado em noite de tempestade, que não se acomoda em lugar algum.
Vivo numa concha de areia e guardo o coração dentro da alma, para que não corra o risco de mo roubarem num qualquer passo de mágica. Entrego-o, na palma da mão, a quem mo merece, quando a paixão me consome a pele cansada da estrada do destino e suspira por beijos molhados e quentes.
Tenho pés de cigana e unhas de cores garridas, tenho o samba no corpo e a pele de África mesclada, dourado escuro, dourado quente. Sou do Mundo, sou do nada, sou do sal do Mar que me mora no olhar e sou da terra que se enterra nos meus dedos e onde me entrego a quem eu quero.
Sou estrangeira neste mundo, caminhante do pôr-do-Sol nos beirais dos telhados. Um pé atrás do outro, delicados no mover, numa dança improvisada no cair dos dias que em vermelho nos dizem adeus, até amanhã.
No peito ressoam-me perdidos os tambores dos amores que espalho no orvalho do dia que nasce, amor que não lhe conheço o fim nem saboreei o início, e que de pertencer a todos não é de pertença de ninguém. É o amor pelo Outro, tenha ele que vestes tiver. A dádiva altruísta, a luz do amor universal, a candeia dos meus olhos.
Sou clandestina neste corpo que me está alugado neste renascer em flor de lótus, sou o arfar do teu peito quanto te consomes de amor, sou os dedos que apagam rasto da lágrima que desce impune pelo rosto moído de dor, sou o abraço apertado que te afaga o soluço do corpo.
Sou tudo e não sou nada, Universo e grão de areia. Viajante dos mundos perdidos, sussurro perdido no grito surdo.
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on quarta-feira, abril 14
at quarta-feira, abril 14, 2010
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