Na noite
Cansada
Adormecida
Cerrada
Pressinto
O crepitar do meu brasido.
Chispas de fogo sobem
Pelo céu do teu olhar.
Promessa em potência
De incêndio por lavrar.
Em minha boca
Entreaberta
Incandescida
Em oferta
Ensaio
O cautério que se avizinha.
Entrecorto-me em soluços
Ofegantes e fervilho.
É pólvora minha pele
Quando acendes o rastilho.
Minha língua
Impiedosa
Engole
Consome
Devora
Todo o ar à tua volta.
Vinte raízes beijadas
Assoladas por vento forte
Ateiam chamas em fúria
Em direcção ao meu norte.
Minha frente
De fogo
Avança
Cobre
Abrasa
Cada centímetro do teu chão.
Ferve-me a pele escalda-me o toque
Arde-me cada nervo em tição
Range-me a voz vão-se os sentidos
Deliro em delírio no furor do vulcão.
Estendo lava
Pela terra
Queimada
Fervente
Regada
Húmida de cinzas.
Expludo em centelhas
De espasmos rutilantes
Quando me rasgas os sentidos
Com ígneo círio chamejante.
É tua a campina aberta
Calcinada por meu desejo.
No rescaldo não te esgotas
E por ti de novo rastejo.
Numa noite calma e serena , Angi acordou sem qualquer razão aparente ou audível, abriu os olhos no escuro, e reparou numa minúscula luz num canto do quarto.
Era irresístivel, e de lá de dentro uma voz femenina ouviu-se:
Assim o fez, a luz aumentou iluminando uma pequena porta verde que não existia dantes, mais pequena que o normal , e do outro lado estava um túnel, Angi pôs-se de gatas e entrou.
Perdeu o chão, e sentiu-se a mergulhar bem fundo.
Não era água, era bem mais denso que água, e se bem que era impossivel respirar, Angi não sentiu essa necessidade.
Estava morno e suave, não se ouvia nada. Um confortável silêncio banhava-a. Maravilhosas luzes nadavam naquele mar, correntes de cores frias e ou quentes.
Angi sentiu-se chupada por aquela luz e deixou-se levar, aproveitando para contemplar todo aquele fantastico cenário.
Quanto mais perto da luz, mais claro ficava, e quente, tão quente que perdeu os sentidos.
Voltou a acordar numa sala e perto de uma lareira, não reconheceu a decoração, mas parecia estar dentro de um castelo.
Levantou-se a custo e reparou nos objectos por cima da lareira, pareciam antiguidades, uma taça com esmeraldas embutidas, e uma chave cativaram a sua atenção. Por cima da lareira e na parede uma pintura de um jovem cavaleiro, imponente.
Um espelho de ferro enorme estava do lado esquerdo, Angi não reconheceu o seu próprio reflexo, para além do mais reparou que não estava só, por trás estava alguém deitado e caído no chão...
Angi tinha morrido sem se dar conta disso mesmo.
Ontem durante um jantar da empresa, levantei-me para ir ao WC e quando voltei à sala estava sozinho, nem uma pessoa me esperava e eu não sabia onde estava nem a que distancia estava o meu hotel. A empregada de mesa, simpática, disse-me que o patrão se tinha levantado e deixado o restaurante e que todos os funcionários o seguiram. Ninguém comeu!
Se na Alemanha o meu patrão durante um jantar saísse, ninguém o iria seguir, primeiro a comida e o patrão se amuou que se foda. Não consigo perceber esta mentalidade e não encontro uma forma de me adaptar.
Mas nem tudo é mau o nascer do sol é lindo não sendo à toa que este é o país do sol nascente.
E eram estas últimas viagens, as mentais, ( um dia à saída do metro, alguém me deu um panfleto sobre um workshop onde explicavam e ensinavam como fazer viagens mentais, sendo esta técnica conhecida desde a antiguidade por personalidades como Cícero e Platão. Eu fui) que me iriam dar memórias e ideias para o que iria escrever a partir de então.
O simples facto de poder fazer o que quisesse, sem que isso afectasse tanto o meu corpo como a minha vida, era fantástico.
Continuará no próximo cadáver esquisito... ou não.
-Faça favor e faça favor de se sentar ali naquela cadeira de pé ao alto.
-Eu preferia ficar de pé se não se importasse?
-Na verdade importo-me porque seria indelicado da minha parte obrigar tão gentil criatura a ficar de pé quando existe assim disponível assento e olhe que é confortável.
-Pois percebo o seu ponto de vista mas não queria abusar da sua hospitalidade e ficando de pé mantenho a postura.
-Pois… Não sei que lhe diga, talvez lhe possa ao menos oferecer algo para beber, um refrescante ou um digestivo ou algo mais forte.
-Não por favor não insista, não posso de modo algum chegar aqui e sentar-me a beber das suas bebidas e algo mais forte poderia tolher-me o raciocínio, eu reajo mal a bebidas brancas.
-Tenho whisky, é amarelado ou dourado, já não seria branco embora o teor de álcool seja parecido.
-Não gosto muito do cheiro, enjoa-me, embora se for velho e maltado o consiga suportar, mas arranha-me a garganta e tendo a fazer caretas o que poderia ser mal interpretado dadas as circunstancias.
-Na realidade um liquido dificilmente pode arranhar, é tudo uma questão de percepção, os nossos sentidos iludem-se nestas coisas e depois eu nunca teria a ousadia de interpretar de forma errada uma expressão facial por muito esgar que ela demonstrasse, seria presunção da minha parte tentar entender algo que ultrapassa ao seu controlo.
-Mas não deixaria de ficar a pensar sobre o que pensaria de mim e da forma como não me consigo controlar, imagine que ficava a pensar que era incontinente e que de repente me podia ter mijado.
-Isso talvez se fizesse notar doutra forma, mas depende da incontinência, às vezes há apenas umas gotas que se escapam e poderão ser absorvidas pelo próprio tecido da roupa interior, também pode acontecer uma situação mais dramática e fluida que acabe por escorrer pelas pernas abaixo.
-Eu uso peças bastante absorventes mas claro que tudo tem o seu limite e a capacidade de absorção não é ilimitada, mas penso que no caso de fluidez visível poderia também notar um certo odor almiscarado, é que eu gosto de comer doces.
-É pouco provável porque tenho falta de olfacto, embora por exemplo as marcações dos gatos me deixem louco.
-Os gatos tem realmente essa particularidade, sobretudo se existem vários machos há a questão dos territórios.
-É por isso que gosto mais de cães e as questões territoriais são sempre importantes, sobretudo se faltam recursos, como a água e terrenos férteis.
-É verdade a falta de água é um problema incontornável do nosso tempo e creio que se irá agravar com esta nossa mania de usar e abusar e a poluição só piora.
-Eu tento reciclar e contribuir com a minha parte mas sei que não basta e temos mesmo que sensibilizar os outros.
-Sim tem toda a razão se não nos acautelarmos chegaremos a um ponto que será tarde de mais.
-Eu sempre digo que nunca é tarde, se for preciso mantenho a porta aberta até haver gente que queira entrar porque isto não está fácil e cada vez há menos dinheiro para gastar.
-A quem o diz, quando chego a meio do mês já começo a imaginar que ainda falta e pouco sobra.
-Porque se calhar não racionaliza ou gere mal a coisa, às vezes pequenos gestos somados, resolvem grandes obstáculos.
-Eu bem tento mas não consigo e acaba por ser superior às minhas forças.
-Pois a falta de força deve de ser tida como um sinal… Mas diga-me o que pretendia afinal?
-Três repolhos e um molho de cenouras.
-Isso é ao lado, aqui é um escritório de advocacia.
"Porra, vai-te embora! Já chega! Se não queres estar aqui, se não me queres ouvir a chorar, vai-te embora! Eu sei que tu queres ir embora, mas porque não vais já? Tens pena de mim? Tens pena deste corpo? Tens pena destas cicatrizes? Elas não se vão embora por ti! E tu não me vais impedir de nada! Chega de estares aqui só porque eu preciso, porque estupidamente tu tens medo que eu me corte! Mas afinal qual é o teu problema?!!!"
Ela está nua à minha frente. A chorar, com o seu longo cabelo negro colado ao seu rosto perfeito. E eu consigo olhar para ela. Para aquele corpo, salpicado de cicatrizes. E realmente eu quero ir embora, como ela diz. Mas não consigo. É demasiado paralisante ver alguém assim, quanto mais ela.
Eu não sabia destas cicatrizes. Descobri há muito pouco tempo. E não sei, não faço ideia porque o faz. Mas sim, eu quero ir-me embora. Ainda assim não consigo mover um pé. Agora a única coisa que nos separa é o seu grito de silêncio, que eu consigo ouvir até ao âmago da minha alma. E eu acabo por querer dar um passo em direcção a ela, mas o seu grito mudo impede-me. Enche a sala.
E ela fala uma vez mais.
"Agora, o teu único caminho é voltar atrás. Este monstro não é partilhável!"
Eu não entendo, mas acho que na cabeça dela está um monstro e não uma mulher. E volto a tentar dar um passo. E volto a não conseguir.
Sem ter qualquer outra opção... Volto atrás.
O Grito mudo estilhaça os vidros da sala, que se espetam nas minhas costas.
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