Foi uns dias antes de tudo começar. Lembro-me de ter aberto os olhos incomodado pela luz do Sol que já ia alto e só ver verde em toda a minha volta e eu até gostava do conforto daquele verde e do cheiro da erva ainda um pouco húmida do orvalho da noite. Se hoje tenho saudades desses tempos simples em que nada acontecia, naquele dia recordo que acordei resmungão e a lamentar a monotonia de mais um dia em que nada de extraordinário ia acontecer e que o meu maior desejo era que algo extraordinário acontecesse. Naquele dia nada de extraordinário aconteceu ou pelo menos eu não reparei que algo extraordinário tivesse acontecido, mas estranhei uma revoada de pássaros lá longe sobre o pinhal que desce da colina dos arcos até ao regueiro da família Síldio e um estrondo oriundo de parte incerta que se foi esvaindo até se tornar um silvo e desaparecer.
Escusado será dizer que ninguém na nossa comunidade ligou alguma importância àquilo, tirando eu que era visto como um bicho irrequieto e trafulha e à espera de sarilhos apenas o Zoldi Ouriço conhecido por começar a mastigar bagas azuis logo que se levantava e a meio da manhã já andar a trombadar pelos caminhos, comentou que vinha ai coisa ruim e que o melhor era começar a encher a despensa. Recordo-me também que foi nesse dia que ganhei coragem para me aproximar sorrateiro do lago da fonte Castanha e espreitar o pêlo a luzir de gotas de água da Riú enquanto tomava banho…
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on sábado, outubro 16
at sábado, outubro 16, 2010
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Privilégios noutras paragens
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