Árvore  

Posted by M. Morstan in

A carta levou-me ali. À minha primeira pista. Não muito alta, mas de tronco grosso e copa larga, a árvore erguia-se no alto de uma colina verdejante. Parei a contemplá-la. Quantos anos teria, interroguei-me. Cem? Duzentos? Mil? Parecia antiga, de tão grandiosa que era. Aproximei-me. Dei uma volta ao tronco. Depois outra. E ainda outra. Parei. Descalcei-me. Estendi os braços, abracei a árvore e encostei a orelha esquerda à casca. Fechei os olhos e respirei fundo. Uma vez. Duas vezes. Três vezes. Deixei de me sentir e passei a senti-la. A árvore é um ser vivo. A árvore tem um coração. Não um coração como o meu, mas um coração que pulsa. E esta árvore tinha um pulsar vibrante. Encostada à árvore, consegui sentir o seu ritmo vital. A certa altura comecei a sentir o pulsar da Terra, por baixo dos meus pés nús. O meu coração desacelerou até ao compasso do vibrar da árvore e do pulsar da Terra. Em sincronia. Deixei-me ficar assim durante uns momentos. Eu, a árvore e a Terra tornámo-nos num único ser. Em sintonia. O tempo à nossa volta parou. O espaço à nossa volta desapareceu. Só nós as três. Eu, a árvore e a Terra. Abri os olhos e ainda abraçada à árvore olhei para cima. Por entre as diferentes tonalidades de verde das folhas, os raios de Sol passavam, filtrados. Uma luz quente aqueceu-me a cara e a alma. Virei-me de costas. Afastei-me da árvore. Primeiro devagar, depois mais depressa. Corri. Sem olhar para trás uma única vez. Deixei a árvore no alto da colina. Compreendi a minha primeira pista. E reli a carta.

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9 Devaneios

Bem vinda a bordo. Foi o A e vem aí o B e estou já ansioso pelo M.
Por outro lado eu ainda não desisti de te matar o que fará de ti uma escritora fantasma, nada a que já não estejas habituada :)
Beijo

12 de outubro de 2010 às 18:18

Obrigada, LBJ!
O B só daqui a uns tempos e o M então... só daqui a muito. Julgo que acharás mais piada ao W, até porque é uma letra engraçada pois parece um M virado de cabeça para baixo.
Quanto a matares-me, estou à espera de tal acontecimento com alguma curiosidade.
Ser escritora (fantasma ou totalmente descoberta) não é o meu destino. Ao contrário de muita gente que aqui escreve neste espaço, eu não sei escrever...
Beijo

13 de outubro de 2010 às 10:50

pra prisão de palavras...

andam muito soltas

I.D.Pena spunea...
os espólios estão bem guardados mas repararam na ironia das caaves do banco de portugal terem sido inundadas , haja ao menos justiça na natureza ..inundações no vazio são mais tristes que irónicas

14 de outubro de 2010 às 00:06

ok spunea para ti também salada religiosa estiveste bem.

Bem vinda M. Morstan gostei da tua soltura aqui no prisão, espero que gostes e que usufruas neste universo
;)))

21 de outubro de 2010 às 22:16

I.D. Pena,
Muito obrigada! Já estava a ficar um pouco triste por não me darem as boas-vindas...
(estou a brincar! ou não...)
:D
De qualquer das formas, é bom experimentar outras formas de escrita que não as que uso no dia-a-dia noutros locais e com outras finalidades.
;)))

23 de outubro de 2010 às 01:47

Welcome a este espaço de ideias e diarreias, escritura e soltura e eteceteras e tais.

Gostei deste primeiro texto, deixou-me a pensar mais na carta do que na árvore.

23 de outubro de 2010 às 04:49

Tarde e a más horas, fica aqui também o meu welcome :D

Gostei muito do texto e especialmente do tema, porque me diz muito, e a forma como o escreveste desenhou as imagens na minha mente.

Beijo

26 de outubro de 2010 às 11:37

Levaste-me lá, ao coração da árvore. A terra que já conhecia, já tinha lá estado, gostou do três!

26 de outubro de 2010 às 23:55

M.Morstan:

Em primeiro lugar, e com mil desculpas pelo atraso:
BEM-VINDA!!!! :)

Quanto ao texto, eu comunhei essa árvore, essa sensação, esse pulsar, essa Terra.
E sim, tal como o Bruno... Quero saber que carta é essa... :)

Beijitos, continua! :)

10 de novembro de 2010 às 00:13

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