Preparo-me. Há muito tempo que não fazia isto, é daquelas coisas que nunca gostei de fazer. Mas ele insiste que eu vá, para que eu veja o outro lado, o outro objectivo de o fazer, as outras sensações que eu nunca senti.
Acho uma certa piada, pois nunca lhe contei porque é que não gosto. Apenas disse "Detesto" e ele decidido disse "Vem comigo. Vais ver que é muito diferente daquilo que detestas." Eu fiquei sem entender, há coisas que se gosta ou não se gosta e eu detesto. Ao pensar nisto encolho os ombros, e sento-me à espera que ele bata à porta.
Não tenho que esperar muito, ele é sempre pontual. Sinto um misto de nervosismo pela sua chegada, e alegria por ver o seu rosto. Que me é sempre agradável. Mas acabo a duvidar que ele consiga fazer-me ver, ou sentir a coisa de forma diferente da que eu sinto. Além do mais ele não sabe porque é que eu não gosto, aliás, detesto, assim tanto. Não sabe que foi porque mo obrigaram a fazer, que me fustigaram para o fazer, e me privaram de sentir isto de uma forma normal, de me dar a hipótese de decidir que gosto ou não. Assim apenas me restou uma hipótese. Detestar.
Começamos, eu queria levar música, e ele diz que não, a música estraga a experiência, tem de ser sem música, temos de sentir os passos as coisas à volta, as pessoas a cumprimentar-nos, a sorrir, como lhe acontece sempre que o vêem a ele. Comigo não sei se sorririam, se apenas me ignorariam, eu não me misturo assim com as coisas as pessoas.
Fazemos o caminho em silêncio e surpreendentemente eu sinto-me bem. Gosto de ver como as pessoas nos cumprimentam, e sorrio-lhes com ele, ao mesmo tempo, no mesmo compasso do sorrir. Sinto as folhas outonais, secas, a estalar debaixo dos meus pés por menos de segundos, o tempo que me demoro a pisá-las, e o som do vento a fazer dançar as folhas que ainda se sustêm nas árvores.
E gosto. Pela primeira vez sinto prazer nisto, depois de tantos anos a tentar e sempre a detestar. Pergunto-me se o conseguiria fazer sozinha, e prometo-me que vou tentar. Começo a ficar cansada, e noto que ele também, mas a sua persistência em continuar, faz-me querer segui-lo sem reclamar. Ele vale a pena isto. O esforço de ficar ao seu lado. Chegamos a um riacho, depois de passar pela cidade, pela estrada, pelo bosque, e ele diz, é aqui. E senta-se. Eu sento-me com ele, convidada pelo gesto silencioso, e fico à espera. A ouvir a água. E é apenas isso que ficamos a fazer, enquanto os corações retomam um ritmo normal, enquanto passamos do calor ao friozinho que nos faz querer aquecer num abraço.
Hoje vou tentar. Sozinha. Pelo mesmo caminho. E não sei se vai ser igual pois ele não está. Mas sei que onde quer que esteja, poderei sentir o seu coração bater com o meu, através das árvores, do vento das folhas, da água a correr no riacho. E foi este o tesouro que ele me deu.
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at terça-feira, fevereiro 09, 2010
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