Perde-te no mapa do meu corpo
Sente o vento que suspira
A mansidão dos cumes
Há azimutes que não seguiste
Linhas rectas, linhas curvas
Por onde teu dedo não passou
Faz contas, sonha o caminho
Que serpenteia por minha pele
E traça teu rumo de nómada
Pousa bússola em terra chã
Olha o Norte nos meus olhos
E avança pelos trilhos
Trepa pelas curvas de nível
Galga montes sinuosos
Demora-te em vales recônditos
Arranca o fôlego à brisa
Incendeia a lenha rasteira
E repousa no teu destino
Este é o terceiro e último texto deste passatempo. Eram para ser 4 mas um foi retirado a pedido da autora.
Tencionamos em breve fazer um novo passatempo de tema livre. Os interessados podem começar já a escrever.
Era uma vez...
Há muito, muito tempo, numa fortaleza do Norte de África, governava uma rainha, de nome Íris. Bela e delicada como uma flor, Íris era apreciada e amada pelo seu povo... Mas odiada por quem queria apoderar-se do poder...
No quarto, iluminado pela lua cheia e percorrido por uma brisa agradável que agitava ligeiramente as cortinas do mosquiteiro, um casal repousava.
Nos braços de Ismael, Íris não dormia. Tinha tanto em que pensar, tantas responsabilidades, para com o reino, para com o povo, mas a respiração calma do amado que dormia, da paz que os unia, acabou por embala-la e o sono chegou.
Os dias decorriam serenos, com as responsabilidades de ambos divididas, pois ela governava o povo, e ele vinha do povo. No entanto, a força dos sentimentos unira-os e era um casal dedicado ao bem-estar do reino, do povo que adoravam e que lhes retribuía esse afecto. O reino crescia, próspero e em paz, longe de guerras e tumultos.
A vida corria sem grandes sobressaltos mas o perigo espreitava.
Teresa, a sacerdotisa, desejava o poder, e começou a conspirar para derrubar Íris.
Em pouco tempo, descobre que a única forma de destronar a governante seria através do marido, de conseguir quebrar a ligação que os unia. Tirando-lhe o Amor que a alimentava, Íris fraquejaria e estaria à mercê dela.
Teresa, sedutora e inteligente, procura e encontra aliados.
O primeiro, seria o irmão de Íris, que não pudera governar devido às leis de sucessão e que cobiçava ser rei. Não sendo, nem de longe, tão apreciado pelo povo, era um trunfo forte devido à sua origem.
Depois, Teresa começou um jogo de sedução, com Ismael. Conquistou a sua confiança para o conhecer melhor, e descobrir-lhe as fraquezas. A tarefa revelou-se simples. Usou a insegurança dele, devida à diferença de estatuto. Disse-lhe que as pessoas nem sempre entendiam os sentimentos dele. Que o consideravam interesseiro e materialista. Aproveitando estas fragilidades, Teresa começa a envenenar-lhe o espírito, insinuando que Íris lhe seria infiel.
Ao mesmo tempo que esta conspiração se desenrolava apareceu na corte um embaixador vindo de uma tribo vizinha. Querendo manter a paz na região, que tanto tinha custado a alcançar, Ísis vê-se obrigada a passar algum tempo com esta visita, em reuniões e encontros políticos, descurando um pouco a harmonia familiar.
Por sua vez, o embaixador sente-se logo atraído pela governante, a qual não suspeita de nada.
Ismael, cada vez mais só, cada vez mais influenciado por Teresa, começa a acreditar na infidelidade da esposa.
Algum tempo decorre e o clima entre o casal começa a deteriorar-se. As insinuações de Teresa e alguns factos que não passam de coincidências e de coisas banais, são agora, aos olhos de Ismael, prenúncios de traições.
Teresa, prosseguindo o seu plano, consegue subornar o Guarda-Real, para a avisar de todas as movimentações de Íris. A armadilha, cada vez mais maquiavélica, estava montada!
Numa tarde de Verão, o embaixador tenta seduzir a governante. Oferece-lhe flores raras e jóias preciosas.
Ismael, de longe, observa a cena mas não percebe a resposta negativa que a esposa dá ao embaixador. Teresa, ao seu lado, “interpreta-lhe” a cena: as flores e as jóias eram uma oferta pelo amor que os uniria, pelo sexo que teriam tido.
Ismael fica louco. Chega perto de Ísis e discutem.
Da nada valeu a Íris tentar explicar o que se estava a passar. Ismael ficou irredutível. Queria acabar com o casamento, que não tolerava traições:
- Já não és a minha flor! – responde num tom frio.
O casamento deles acaba e Íris entra em depressão. Fragilizada no que lhe dava força, acaba por permitir que o irmão tomasse o seu lugar e deixa o poder. Fora desacreditada na sua essência, perdera as forças, perdera até a vontade de viver.
O irmão toma o poder, influenciado por Teresa e pelo Guarda-real e o povo sofre alguma opressão. O reino perde a prosperidade alcançada e a guerra avizinha-se, em parte devido ao incidente com o embaixador, que se retira.
Irís definha, como uma flor que murcha. Exila-se numa das suas fortalezas fora da capital do reino, ausente da realidade política e do mundo em geral. O irmão assegura-se que esteja alimentada e cuidada, mas sem interesse por nada, sem acesso às novidades da corte.
Teresa consegue seduzir Ismael, que tenta com ela uma vida em conjunto, mas com grandes dificuldades. Ele sente falta da sua flor, dos seus carinhos.
E os anos vão passando, num reino que vai perdendo o brilho próspero de outrora, sob influência gananciosa e desgoverno político.
Mas um dia...
Ismael é chamado ao reino vizinho. Pensando ir em trabalho, depara-se com o embaixador às portas da morte.
Revoltado por ter de o encarar, tenta sair da sua presença.
Mas antes de Ismael sair, o moribundo revela que Íris é inocente. Que nunca acontecera nada apesar das suas investidas, que ela sempre o recusara por Amor ao marido.
E diz-lho apenas porque sempre esperara que Íris o desejasse e amasse como amara Ismael, mas ela partira e ele nunca mais a tinha visto. E findo estes anos todos, o embaixador estava mortalmente ferido e desejava morrer com a consciência tranquila de quem dissera a verdade.
Um calafrio percorre Ismael. A revolta que sente é enorme.
O embaixador, nas suas últimas forças, revela que fora contactado por Teresa para ajudar nos seus planos. Prometera-lhe ouro e a rainha. Ele aceitara, porque a desejava. Revela também o envolvimento do irmão e do chefe da guarda.
Ismael corre para Íris.
Esta, no primeiro impulso quase que o beija.
Ainda gostava dele.
Após aqueles anos todos, ainda gostava dele.
Ele tenta pedir desculpa. Falam durante muito tempo. Ela continua magoada por ele não ter acreditado nela. Ele sente-se revoltado por se terem aproveitado dos seus sentimentos, pela sua fraqueza, por ter duvidado dela.
Regressam à capital.
Ismael confronta Teresa que nega tudo. Contudo, ele não fora o único a ouvir a confissão do embaixador. O irmão de Íris é também deposto. O Guarda-Real incrimina Teresa, que foge.
Alguns dos súbditos mais fiéis a Íris perseguem-na para que a justiça seja feita, mas acabam por morrer nas mãos dela e dos seus guardas. Apenas um regressa contando o sucedido.
Íris não regressa ao poder. Uma doença apoderara-se dela e consumira-a tanto quanto a sua tristeza e estava em fase terminal.
Os últimos dias de Íris aproximam-se.
Ismael despede-se de sua flor. Apenas a dor dele não ter acreditado nela a magoava, de resto, estava serena. E ele também sofria com isso.
- Minha flor... Perdoa-me...
Com um sorriso triste e sem forças para falar, ela toca-lhe no rosto amado e debruçado sobre a sua mão.
- Encontramo-nos noutra vida, amor...
E com estas últimas palavras, Íris fechou os olhos para sempre.
Ismael chorou.
Nada mais podia ser feito... apenas restava a esperança de se encontrarem numa próxima vida para reviver o amor verdadeiro que sempre os unira…
Por: Tulipa Branca
Abaixo podem ler o segundo texto deste passatempo. Os nomes do autores aparecem no final dos textos e clicando nesses nomes irão parar às páginas pessoais dos mesmos.
Uma rapariga pega no telemóvel extremamente nervosa e clica no redial para falar com a sua melhor amiga.
“Bea, não sei o que fazer. Amo-o tanto e não acho que ele sinta o mesmo por mim. Quero dizer, sempre que o vejo ou penso nele, não consigo evitar sorrir. Por vezes ele vê-me sorrir e sorri de volta. É aí que os meus joelhos se tornam gelatina e sinto borboletas no estômago. Eu sei que o achas giro, adorável mas olhando mais profundamente encontras mais... Uma pessoa carinhosa, cheia de consideração e tudo isso me faz sentir que não o mereço. Bem, na verdade eu não o mereço mesmo. Ele é perfeito demais, tanto que todas as raparigas estão caídas por ele. Eu não consigo ser como elas. Elas são todas tão bonitas e cintilantes e... eu... eu não... nem me posso comparar a elas. Quando penso nele, quando o vejo, só sorrio. Ainda não te tinha dito, mas ele ligou-me há pouco tempo para falar do trabalho da escola. Fiz figura de parva. Estava completamente embaraçada e não conseguia parar de gaguejar. Mesmo assim, ele foi um querido continuando a falar como se me tentasse fazer sentir melhor. Ele é PERFEITO e eu não o mereço... Mas porque é que continuo a desejar que ele repare em mim? Porquê? Bea? Beatriz, estás aí?
“Eu não sou a Beatriz!”
Petrificada a menina pergunta, “Quem és tu?”
“Eu sou o rapaz cujo sorriso transforma os teus joelhos em gelatina. Aquele que te faz sentir borboletas no estômago e que sorri quando te vê sorrir. Só te queria dizer uma coisa: Tudo o que disseste agora, é o que não tenho tido coragem para te dizer, desde há muito tempo, mais exactamente, desde o dia em que te conheci”.
Por: Shilan Nozari
Abaixo podem ler o primeiro texto enviado pelas pessoas que acompanham este blogue. No total serão publicados este mês 4 textos.
Passei horas a ouvir o nosso atendedor de chamadas. Ouvi a mensagem uma vez, e outra, e outra, e outra... Por mais estúpido que fosse, era a única forma de ouvir a tua voz. O calendário colado na porta do frigorífico marcava a data 3 de Setembro. Era a nossa data. Fazíamos 4 anos. "Quem diria?", pensei eu. Já nos conhecíamos há tanto tempo, de uma forma ou de outra fomos indo e voltando da vida um do outro, até àquele dia. O dia 3 de Setembro. O dia do primeiro beijo. O dia em que tudo mudou. O dia em que entraste e eu senti que nunca mais irias sair.
A cada dia que passava, sentia-me mais apaixonado por ti. Cada beijo tinha a emoção e o sentimento do primeiro. Lembro-me de ficar horas acordado a ver-te dormir. "Oh, meu amor, o quanto eu te amo". Lembro-me pensar isto, e adormecer com um sorriso na cara, só por te sentir ali. E lembrar, de quando fazíamos serões no sofá, a ver daqueles romances, e te deitavas bem perto de mim. Ainda sinto a tua respiração no meu pescoço, o cheiro do teu perfume quase tão doce como tu. Ou dos passeios pela muralha, a ver o mar, a rebentação das ondas nas rochas e o pôr-do-sol. Era tudo tão belo. Parece que foi ontem que te pedi para me beliscares, porque não acreditava que podia ser assim tão feliz.
Lembro-me do prazer que era, depois de um cansativo dia de trabalho no escritório chegar a casa, e ter sempre o teu beijo à minha espera. As tuas palavras carinhosas. Acho que nunca te disse o quanto te admirava realmente. Tu tinhas uma força que dificilmente eu algum dia virei a ter. Independentemente de como te corresse o dia, o teu sorriso estava sempre lá para me receber, por pior que tivesse sido o teu dia de trabalho, por piores que as coisas andassem. Recordo-me de discutir contigo um dia, por uma coisa tão insignificante que já nem sei ao certo o que era. Recordo-me de sair porta fora, exaltado. Recordo-me de a abrir de seguida, e mesmo sem falar, olhei para ti e pedi-te desculpa, e tu a mim. O beijo que demos de seguida foi tão forte, tão intenso, tão... ai, amor, parece que ainda o sinto aqui, nos meus lábios. As tuas mãos suaves no meu rosto, e as minhas na tua cintura. Encostaram-se os nossos corpos, quentes e desejosos um pelo do outro. Fechei a porta com o pé, agarrando-te ao colo de seguida. Essa seria talvez a mais bela noite de amor alguma vez vivida em toda a História dos amores. Fomos mais que um só, fomos o símbolo da união e perfeição. Fomos o dois, e fomos o três. Fomos o dois, o dois da união, e fomos o três, o três da perfeição. Naquela cama, por entre lençóis e suores, fluidos e gemidos, lá estávamos nós, totalmente entregues um ao outro. Eu, tu e o nosso amor. Essa fora uma noite no meio de tantas e tantas que passámos nestes quase quatro anos.
Dei por mim, a fitar o tecto, perdido no espaço e no tempo, a recordar a memória de ti. Tinha um sorriso no rosto, e uma lágrima no canto do olho. Olhei para a nossa fotografia, aquela que tirámos quando fomos àquela que é chamada de cidade do amor. Paris. Atrás de nós, luminosa, estava a Torre Eiffel, apenas ofuscada pelo teu sempre radiante sorriso. Podiam ligar todas as luzes, aumentar o Sol, que tu brilharias sempre mais, mais que qualquer estrela. Mais que tudo.
Dói-me sentir que já não estás aqui comigo. Dói-me mais ainda saber que me foste tirada. Não merecias. EU não merecia perder-te, não desta forma. Uma recordação que estava tão presente na minha memória era a daquela palavra. Leucemia. Pus a mão no ombro. Foi como se ainda sentisse as tuas lágrimas, quando te apoiaste nele depois de o médico dizer aquela palavra. Leucemia. Apertaste tanto a minha mão. Eu fiquei sem reacção. Não sabia que te dizer, ou fazer, ou fosse lá o que fosse. O ser humano não está concebido para situações destas. O médico deixou-nos a sós, para digerirmos tudo aquilo. Não sei quanto tempo estivemos ali. Chorámos. Estive a teu lado nos altos e baixos, por entre exames e tratamentos, e a busca de um dador compatível, que, infelizmente, nunca viria a aparecer. Tentaste afastar-me, pensando que talvez assim eu sofresse menos. Oh amor, como eu te conheço. Eu sabia que o farias, mas eu não te deixei só. Vi a vida desvanecer nos teus olhos, a cada dia que a doença se apoderava de ti. E partiste. Nesse dia o Sol nasceu e pôs-se sem que se lhe visse a cor. O céu ficou cinzento, escuro, carregado de chuva, como se também ele fizesse luto por ti. Tudo passou a ser sem cor, sem luz, sem vida. A vida, por si só no termo da palavra, já não o era. Eu não vivo sem ti, apenas sobrevivo. Ainda hoje sinto o vazio que deixaste. Ainda hoje te amo, mesmo sabendo que não estás aqui. Ainda hoje...
Por: Filipe Sardinha (Pipoo)
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