Cartas. Vivo rodeada de cartas. Umas vêm, outras vão. Não mais que pedaços de papel com caracteres escritos a tinta. Às vezes têm apenas desenhos. Uma carta pode dizer tudo e pode dizer nada. Pode ter uma linha e conter toda uma vida. Pode ter sete páginas e estar recheada de trivialidades. Escrevo muito, eu. Envio. Recebo. Envio. Recebo. Leio, releio, torno a ler. As cartas são emoções. São desejos. São caprichos. São pecados. São armas. São crime. São pistas. Para o real e para o irreal. Para o consciente e para o inconsciente. Dizem que os grandes cérebros criminosos gostam de escrever cartas. Passar para o papel como é o pulsar de um coração acabado de arrancar a um peito jovem. Bate. Bate. Bate. E deixa de bater. A vida a esvair-se na mão. Na minha mão. Pena é estar sempre escuro, quando a vida desaparece. Mas a glória do dia tende a ofuscar a glória da morte. A morte de dia desvanece-se com o entardecer. A morte de noite brilha com a aurora. A descoberta de um corpo pela manhã, orvalhado, com os raios a reflectirem, é sublime... Cartas. Cartas. Cartas. Pedaços de mim que envio e que recebo.
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on quarta-feira, janeiro 19
at quarta-feira, janeiro 19, 2011
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