A garça de Deus  

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Andava um dia um pastor a pastorar o seu rebanho que tinha cabras e tinha ovelhas e tinha carneiros e tinha dois cães que eram pouco peludos e compridos de rabo e perna alta quando sentado debaixo de uma árvore de folha caduca mesmo no final do Verão num daqueles dias que quando se sai de casa faz frio mas depois ainda se sua lá para o final da manhã lhe apareceu Deus. O pastor que não sendo beato nem daqueles que queriam ser sempre dos primeiros a comungar era crente na medida em que não tinha nenhuma razão para acreditar que não existisse um Deus e que esse Deus era o pai de todos mesmo dos bastardos e dos desgraçados e dos ricos e dos pobres e até do tonto lá da aldeia que gostava de levantar a saia às moças para lhes pôr à vista as truces à vista de toda a malta que se riam que se fartavam e sempre lhe iam pagando um copito na tasca. Por isso quando Deus apareceu ao pastor ele imediatamente percebeu que Deus era Deus e que até era parecido com as imagens que vira em miúdo num livro que havia na casa de já não se lembrava de quem e quando Deus lhe falou num vozeirão tremendo que parecia soprado dentro de um tubo comprido e estreito na boca mas que depois se alargava como uma corneta das grandes e bojudas ele assustou-se e só não se borrou todo porque tinha vergonha de o admitir em público.

Deus estava vestido de cinzento com um manto que lhe tapava o corpo todo com excepção das mãos e dos pés e da cabeça e tinha barba e um pássaro branco de bico bicudo parecido ou igual àqueles que costumavam andar no meio das vacas pousado no ombro. Uma graça como lhes chamava o marceneiro da casa do moinho e uma bela graça de penas brilhantes. Deus disse ao pastor que o tinha ajuizado e julgado digno de uma das suas garças divinas pela sua bondade e vontade de não querer mal ao próximo e de ser simples e humilde e de não invejar nem as posses nem as mulheres dos vizinhos e o pastor ficou contente porque afinal não era tão parvo como todos lhe chamavam e ia ter uma graça de Deus o que tinha de ser uma coisa boa. O pastor aceitou de Deus sem perceber muito bem porquê o pássaro e levou-o para casa e dá-lhe todos os dias água e farelos de pão que o animal ignora porque prefere comer baratas e um ou outro gafanhoto que apanha por ali e ainda espera um dia perceber ou receber de Deus as instruções para pôr o bicho a funcionar como deve ser e se não for daqueles que cagam ovos de ouro ao menos que diga palavrões como o papagaio da taberna.

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1 Devaneios

SOBERBO ahahahahaha!

AMEI! :D


sem fôlego, mas amei! :p

(fogeeeee!)

21 de setembro de 2010 às 02:48

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