No momento em que a vi apeteceu-me tocar-lhe, abraça-la como se ela fosse chorar. Dizer-lhe "está tudo bem e vai continuar tudo bem", mas um estranho não pode fazer isso. Nos primeiros segundos senti que a conhecia, via-a como especial. Os meus pensamentos saltitavam entre o sonho e a realidade. Sonhando pensava "podes ser tu", para de seguida pensar "podes ser tu quem me irá magoar". Porque é assim mesmo, o nosso lado sonhador sonha, ilude-se enquanto o outro nos diz "vais-te lixar". Qual ouvimos? O sonhador, claro.
É este o poder que uma mulher exerce sobre um homem, o de conseguir deixar o mais seguro dos homens, o mais confiante dos homens a sonhar como um adolescente perdido e confuso. Perdido em pensamentos banais, planos banais de uma vida activamente banal.
Os nossos olhares tocaram-se. Tocaram-se distraidamente. Não a esperava ver, ela não me esperava ver mas o olhar não foi desviado. Olhei-a bem, olhei bem fundo nos seus olhos enormes e muito abertos. Vi muito mais do que queria ver, vi beleza, vi carinho, vi curiosidade e vi dor, muita dor e vi algo de perturbador. Sorri para ti com segurança insegura de quem viu o seu coração invadido por um simples olhar. De quem viu os seu sentimentos remexidos até aqui escondidos num local mais escuro e protegido que a caixa forte de um
banco
... dinheiro... tempo... e agora já não consigo pensar noutra coisa senão em férias. Férias de tudo! Férias permanentes em praias desertas, com água cristalina e areal a perder de vista. Saladas e sumos naturais. Carradas de protector solar e depois mais carradas de hidratantes pós-sol... ahhh, lembro-me das longas tardes de verão que se estendiam até às 10h da noite. As massagens em spas de fim-de-semana. Os mojitos, caipirinhas, águas de coco e sumos naturais. E o de maçã e lima, fresco (e não com gelo) era divinal. Bebia sempre dois de seguida. Começava a arrefecer-nos de baixo para cima. Primeiro na zona do estômago, depois todo o peito e garganta, e segundos depois, já sentíamos a testa mais fresca (sorrio). Vem-me à memória, outras memórias... Lembro-me, por exemplo, do pequeno banco branco de madeira, onde me sentava ao sol, na casa de férias dos meus avós, enquanto construía pequenas catedrais com areia molhada. Aquelas manhãs quentes em que era necessário molhar o banco antes que me pudesse sentar nele. E a piscina era apenas a segunda distracção desses dias. Anos mais tarde, aquele beijo dado no banco do jardim, em frente à escola secundária, no último dia de aulas antes das férias grandes.. O calor nesse Junho estava insuportável. E aquela sombra, mesmo junto à fonte que, com a ajuda de algum vento nos trazia gotas de água para nos molhar, pediu aquele momento. Seria o primeiro beijo a fazer estremecer-me por dentro. E foi lindo.