Acordar sem relógio ou telemóvel por perto obriga-nos a observar outras coisas primeiro e eu observei tudo, enquanto fumava o primeiro cigarro à varanda.
O calor que já se sentia e fizera desabrochar as peles que agora se mostravam coloridas pelas marcas de outras roupas. Os sons de diferentes línguas e o cheiro de vários perfumes... a calma e a paz... isto tudo inundava-me de prazer e eu não pensava em sair daquele sítio tão depressa. Estou de férias. Sozinho e, para já, não preciso de mais nada, a não ser o meu portátil e o meu tabaco.
O primeiro café do dia, surgiu por volta das 10h da manhã, numa esplanada cheia de pombos e gentes. Bebi-o como quem bebe um copo de vinho... e demorei-me nele até ficar
Frio.
Gelado é como me sinto. Não sei por que estou assim, tremo por todos os lados. Estou só. Caminhando na neve sozinho no mundo. Este mundo é branco, lindo mas gelado e eu congelado sem forças para lutar. Combato-me tentando escapar, quero ser livre sair desta prisão, mas sem sucesso. Sinto que estou algures no tempo ou quem sabe numa vida passada. Choro, grito mas ninguém me responde, ninguém me ouve, ninguém quer saber. Tenho medo. Já vivi esta vida não sei dizer bem quando, mas há muito, muito tempo já aqui estive, neste local, sentido o mesmo... frio. Luto novamente, revivo a dor.
Se conseguisse falar não saberia o que dizer. Se conseguisse mexer as pernas eu fugiria, mas se conseguisse mexer os braços tomaria a minha vida, só para não tomar a tua.
Por favor ajuda-me a sair daqui, está frio deixa-me entrar, abre-me a porta, ajuda-me a acordar.
Fim