Bicho  

Posted by LBJ in


Bicho maldito. Maldito sejas tu que devoras e que sorves e que chafurdas nos restos das tuas conquistas. Maldito tu que esgravataste a terra e secaste o mar e sujaste o ar com o que sempre procuras e que nunca encontras. Maldito que nunca achas o que ainda te falta. Maldito que ainda e sempre te falta. Maldito tu que te aglomeras e que te espalhas e que te rodeias e que te enches e que te vazas. Maldito.

Maldito tu que procuras nos deuses uma razão e nas preces uma absolvição. Maldito tu que ensaias o riso e simulas o choro. Maldito tu que tens orgulho da avareza e luxúria da gula e inveja da preguiça e que te iras por isto ou por aquilo ou porque sim e porque não? Maldito tu que já não comes para viver e agora vives para comer. Maldito tu que sintetizas o esquecimento no fundo de uma garrafa, maldito tu que fumas ilusões, maldito tu que cheiras e que chupas e que chutas e que mastigas outras realidades de bicho maldito.

Maldito tu que gritas e te calas e que te incomodas e te acomodas e que te sentes e te consentes. Maldito bicho que rastejaste do nada para ambicionares o todo. Maldito tu que queres ser mais, mais que um bicho, mais que um enxame, mais que um deus. Maldito bicho hipócrita que te amaldiçoas.

Cavaleiro da Alvorada  

Posted by Bruno Fehr in

Foi numa noite apagada que tudo começou
Fugindo da madrugada e daquilo que eu sou
Encontrei um caminhante que me disse sem falar
Para parar correr e viver a vida a caminhar

Caminhei na noite eterna em busca da alvorada
Seguindo sempre em frente a cada encruzilhada
Cavaleiro sem cavalo, reino, espada ou destino
Frio, ausente e distante, um parvo armado em paladino

Ansiei em encontrar o calor de um sentimento
Em tudo diferente do fingimento do momento
Foi então que encontrei a mais bela das mulheres
Num campo verdejante salpicado de malmequeres

Ao longe o oceano da minha vida que já não é
O teu longo cabelo a ondular ao som da maré
As estrelas ofuscadas pelo brilho do teu olhar
Perdemo-nos num abraço de quem aprendeu a amar

Os nossos olhos cantaram uma canção que não escrevi
Mas uma nuvem negra levou o melhor momento que vivi
Perdido, olho em volta e não vejo vestígios de um caminho
Sigo em frente consciente de que sigo só mas não sozinho

De que se faz o amor?  

Posted by Mag in


Como sei, perguntas-me tu?

São os teus olhos que falam comigo e me contam de Mundos partilhados, de viagens fantásticas, de vidas trazidas, em memórias, ao presente, que me acariciam a pele sem me tocar.

São as tuas palavras embalando-me a alma, cantando-me trovas sem o saberes, nutrindo-me o coração, afagando-me o corpo, calando-me, aos poucos, o medo.

É o cheiro da tua pele na minha, um chegar a casa com o corpo cansado e a precisar de mimos, um aroma a pertença, a partilha, a doçura.

É o teu abraço forte que me protege e ampara, o ninho que crias para que nele me aconchegue e ressurja, equilibrada e forte.

É o beijo da tua boca vermelha na minha, promessa de brisa que sossega a tempestade revolta do mar, que acalma o chocalhar disperso das pulseiras de cigana que me adornam os braços, que me faz querer ficar ali, suspensa no tempo, no espaço, sem peso, sem saber, sem pensar.

São os segredos partilhados, as cumplicidades tão reconhecidas, o ser um e ser dois e crescer mais e querer mais, as descobertas de todos os dias, o sabor a mar nos lábios, e a terra para fincar os pés, e o fogo no peito, e o ar para espraiar as asas.

Como sei?

Não sei.

Mas quando penso em ti, recordo-me de tudo isto.