Nem duzentos metros conduzi e bati em algo... uma pessoa.
- Foda-se!
Deixei o carro ir abaixo. Travei-o depois e olhei pelo retrovisor. E antes de ver mais alguma coisa, vi os meus olhos cheios de medo.
Eu estava a tremer por todos os lado. Desliguei o rádio. Respirei fundo, e desapertei o cinto.
Não queria ver o que tinha feito. Esperava que a pessoa estivesse bem, que tivesse sido só um arranhão.
Mas acho que o arranhão estava no meu carro e não naquela pessoa.
Abri a porta, pus um pé no chão e... Foda-se o que é esta merda?! E era mesmo merda, e parecia humana.
Com a sorte que tenho, o mais certo foi ter atropelado alguém que estava a aliviar-se mesmo aqui.
Parei o carro e saio. Vejo um jovem imóvel no asfalto, "que fiz eu?". Hesito entre fugir ou ficar, não fujo pois uma multidão já se encontra no local muitos mais se aproximam. Na minha cabeça está um furacão de pensamentos afogados em álcool. Não consigo parar de olhar para o rapaz no chão, "destruí a minha vida. Pior, destruí a vida de alguém, pois a minha já não valia nada".
As vozes das pessoas à minha volta, não passam de ruídos dos quais só distingo as palavras "bêbedo" e "morto".
- Calem-se, caralho!
Sento-me no chão, com as mãos a tapar a cara. Não me sinto bêbedo e nem sequer estou nervoso.
Sinto-me no limite entre o que penso que sei e o que é mesmo. E aquele corpo ali no chão rodeado de pessoas faz-me acreditar que estou mesmo acordado e que isto foi mesmo um crime.
Sinto o cheiro do sangue. Mas não quero saber se aquilo ali, apenas a uns passos de mim, é já um cadáver.
Quero voltar atrás no tempo. Quero não ter feito aquele brinde, que se viria a repetir pela noite fora. Quero acordar...
Foda-se! Estou atrasado para o casamento.