Furioso, atirou o capacete para o chão e começou a andar para bem longe da multidão que o olhava.
Fervia de indignação, misturada com uma irracional raiva contra si mesmo.
Pressionava-se para ser o melhor, mas no fundo continuava a criança assustada que precisava de apoio emocional.
Ela viu-o partir e, suspirando, seguiu calmamente no seu encalço.
Já o conhecia o suficiente para saber que por debaixo daquele corpo de homem adulto se silenciava uma alma sensível em busca de carinho e amor. Que nunca admitiria. E sabia que os primeiros momentos seriam de ira, pelo que convinha deixá-lo só.
Ele sentiu-a chegar muito antes de a ver. O seu corpo dava o alarme de cada vez que a sentia perto. Tinha de esconder esse sentimento crescente e responder à urgência do toque com momentos de fingida descontracção no grupo. Eram tão fugazes e deixavam-no tão insatisfeito que de noite, com a namorada nos braços, percebia-se a imaginar que era a ela quem abraçava e beijava... e se torturava em seguida, achando-se o pior de todos os homens.
Naquele momento a raiva misturava-se com o desejo forte de lhe sentir a pele, o gosto, o corpo contra o seu, e a ira parecia incendiar, a ponto de ameaçar ensandecê-lo, a loucura dos sentidos.
O seu olhar chamou-a, sem palavras.
Devagar, ela chegou ao pé dele e passou-lhe uma mão ao de leve num dos braços. Não precisava de muito para o fazer sentir que estava ali. Era o papel dela, e fazia-o com todos os membros da equipa. Claro que ele era especial... mas isso não o podia deixar saber. Não sabia mais como o esconder, na verdade, porque o sentimento que a consumia parecia-lhe transbordar por todos os poros da pele.
Sem pensar, ele puxou-a com força contra o seu peito e enlaçou-a pela cintura. Chorava de raiva, dor, carência, paixão, desejo e medo. Os dedos dela tocaram-lhe nas lágrimas e os dois olharam-se durante uns segundos que pareceram durar uma eternidade.
E depois o Mundo desabou.
Com sede, ele procurou-lhe os lábios, enquanto os dedos matavam a fome explorando o seu corpo. Ardia. E já não havia volta atrás no caminho que escolhera.
O corpo dela parecia convidá-lo à descoberta. Não o esperava, de todo, mas pressentia nela a mesma voraz vontade que o acordava de noite depois de horas a sonhar amá-la.
Apercebeu-se de repente que o estava a fazer naquele momento.
Encostara-a contra uma pedra e beijava-lhe os seios, enquanto os seus dedos traçavam a rota tão ansiada de encontro ao centro do seu desejo, encontrando-a húmida. Respirando ofegantemente, ela olhava-o bem nos olhos enquanto o guiava para dentro de si, num óbvio convite à consumação do prazer.
Ambos gritaram baixinho no momento da penetração.
Tinham vivenciado mil vezes aquele encontro, mas nem nas suas fantasias mais loucas supuseram uma união tão completa e uma entrega tão imensa.
O mergulho veio abençoado e rápido, em simultâneo, um embutir de todos os sentidos conjugados num único instante. A descida ao abismo esgotou-lhes as forças e deixaram-se ficar abraçados e perdidos, mais juntos que nunca.
E tudo mudou nesse momento.
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on segunda-feira, junho 13
at segunda-feira, junho 13, 2011
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