-Desculpa, dás-me um cigarro?
-Porque não… até te faço companhia.
-Há muito que não te vejo por aqui.
-Costumava vir todos meses, às vezes com tempo e outras apressado, um dia distrai-me…
-E deixaste de vir!?
-Esqueci-me do caminho.
-E como chegaste cá hoje?
-Por acaso, deambulava sem destino e quando dei por mim estava por aqui.
-E encontraste-me?
-Parece-me que foste mais tu que me encontraste.
-Eu esperava por ti.
-Por mim?
-Ou por um dos teus personagens.
-E tens algum que prefiras?
-Tenho vários, gosto sobretudo dos loucos e dos perdidos e dos imprevistos.
-Porquê?
-Não sei, não tem que haver uma razão para tudo.
-Pois não.
-Vais voltar?
-Quando? Onde?
-Na próxima vez, aqui onde podemos partilhar um cigarro.
-E partilhar um caminho perdido ou um devaneio ou a imprevisibilidade de uma palavra sem contexto?
-Tinha saudades de te ter por cá.
-Parece-me que tinha falta de cá vir.
-Dás-me outro cigarro?