Assimetrias. Preto e branco, recto e curvo, inodoro e pestilento, nascimento e morte. Vivemos a vida entre assimetrias. Já não gosto de me vestir de preto e ainda gosto de ver alguém vestir de branco e desconforta-me o inodoro e incomoda-me o pestilento, estou cada vez mais longe de ter nascido e mais perto de morrer. Na cultura em que me criaram o preto é a cor da morte e o branco é a cor do nascimento. Na fé que me impuseram vestiram-me de branco no baptismo e vestiram-se de preto no luto. Mas nunca gostei de me vestir de branco e não me lembro da dor de nascer, somos preservados pela memória do acto de nascer, apenas restamos como memória no acto de morrer, mas gostei um dia me vestir de preto sem ter que o associar à dor de alguém morrer.
Eu estou na minha assimetria ainda empurrado pelo bramir de mentiras que sei reconhecer como assimetrias de verdades. A verdade e a mentira serão talvez as únicas assimetrias que necessitam de juiz para serem julgadas na sua condição. A alegria é uma assimetria imprópria da tristeza e a verdade é a alegria que resta quando todas as tristezas das mentiras se revelam. Eu estou na minha assimetria seguro e alegre da minha verdade e triste pelas consequências das tuas mentiras. Tu estás na tua assimetria segura e alegre da tua mentira e triste pelas consequências das minhas verdades. Somos assimetrias a viver nas nossas assimetrias e seremos ajuizados nas nossas condições, eu seguro na minha verdade e tu segura na tua mentira.
Não estarei alegre na tua tristeza como tu estarás triste na minha alegria.
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on domingo, julho 18
at domingo, julho 18, 2010
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Privilégios noutras paragens
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