Saí para a noite quente, que se me colava à pele numa carícia indesejada.
Saí trôpega de palavras caladas, de beijos forçados, de intimidades que não me eram íntimas à alma, mas cavalgavam apenas este corpo que me calhou em sorte.
Saí para a calma insegurança do escuro, deixando para trás dos ombros aquele que era suposto ser, aos olhos do mundo, o meu Mar de segurança, mas onde sentia apenas navegar às cegas, protegendo-me dos rochedos mais escarpados.
Saí respirando em golfadas o ar que não me era permitido lá dentro, saí largando aos borbotões as lágrimas que enrolava na barriga quando fingia ser mãe, e mulher, fêmea completa.
Saí sabendo que o clube de leitura seria apenas um bálsamo momentâneo, um penso demasiado curto para a ferida que ameaçava expôr-se a qualquer instante, um intervalo no ritmo diário, e que em breve estaria de volta ao ninho para aquela que era a vida que, apesar de tudo, continuava a escolher.
Porque o sorriso dos meus filhos me alimentava (parte) do coração, enquanto o resto era uma dor fininha que se enrolava nas veias.
Sequei as lágrimas, suspirei e encaminhei-me para a livraria.
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on sábado, julho 10
at sábado, julho 10, 2010
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