Intervalo, "half time"  

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Saí para a noite quente, que se me colava à pele numa carícia indesejada.
Saí trôpega de palavras caladas, de beijos forçados, de intimidades que não me eram íntimas à alma, mas cavalgavam apenas este corpo que me calhou em sorte.
Saí para a calma insegurança do escuro, deixando para trás dos ombros aquele que era suposto ser, aos olhos do mundo, o meu Mar de segurança, mas onde sentia apenas navegar às cegas, protegendo-me dos rochedos mais escarpados.
Saí respirando em golfadas o ar que não me era permitido lá dentro, saí largando aos borbotões as lágrimas que enrolava na barriga quando fingia ser mãe, e mulher, fêmea completa.
Saí sabendo que o clube de leitura seria apenas um bálsamo momentâneo, um penso demasiado curto para a ferida que ameaçava expôr-se a qualquer instante, um intervalo no ritmo diário, e que em breve estaria de volta ao ninho para aquela que era a vida que, apesar de tudo, continuava a escolher.
Porque o sorriso dos meus filhos me alimentava (parte) do coração, enquanto o resto era uma dor fininha que se enrolava nas veias.
Sequei as lágrimas, suspirei e encaminhei-me para a livraria. 

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3 Devaneios

Triste...

Mas quantas vidas terão esta realidade?...

E quantas delas não se escondem e refugiam em intervalos, sempre curtos, de uma realidade paralela encontrada em livros, ou novelas, ou outras vidas fictícias?...

Bonito texto, Mag...

Beijitos

12 de julho de 2010 às 22:42
Anónimo  

Muito bom Mag :)
Quantas vezes basta apenas um vislumbre de como as coisas podem ser para que a realidade se torne um pouco mais suportavel.
Beijinhos

14 de julho de 2010 às 11:02

-Que triste , mas espero que tenha encontrado um bom livro nessa livraria .
Gostei muito! :)

17 de julho de 2010 às 12:20

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