É quando o meu corpo se fantasia de estátua de sal, neste mar onde o azul e o verde se beijam em despudoradas e translúcidas mesclas de cores, é quando sinto o frio imenso e salgado lamber-me a pele, é quando me banho nua e só neste pequeno local que é meu, é agora que mais sinto, voraz, a tua ausência.
A ausência de quem nunca comigo esteve, de quem nunca me saboreou, a quem nunca ofereci este abraço moreno e este corpo que sonha entregar-se ao teu, numa vontade que começou discreta e sensata e se transformou numa cobra que me estrangula de desejo, de cada vez que te penso.
E esta luxúria dos sentidos que me consome sem te ter liberta-se agora nas mãos doces de Iemanjá, que me afaga a tristeza e me embala devagar, levando-me para longe da areia da praia…